Quanto ganha o planeta se houver uma só saúde para todas as espécies? A 3 de Novembro assinala-se o Dia Mundial do One Health – um conceito que reconhece a ligação intrínseca e inevitável entre saúde humana, animal e ambiental. Essa é a visão para a saúde que a juventude defende.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 13 milhões de mortes anuais são provocadas por doenças de causa ambiental e a literatura científica indica-nos que 75% dos agentes patogénicos que surgiram nas últimas três décadas têm origem animal. Por diversos meios, o crescimento exponencial da população humana, a agro-pecuária intensiva, a desflorestação, a fragmentação dos habitat, as alterações climáticas, a destruição da camada de ozono estratosférico, a perda de biodiversidade e a degradação dos solos, dos recursos hídricos e dos ecossistemas afectam a saúde humana.
Por via da pandemia de covid-19, ficámos cientes de que o mundo inteiro pode parar por um problema de saúde pública, onde as cicatrizes tardam em sarar. O ser humano, através do seu modo de vida, foi sendo cada vez mais intrusivo, invadindo ambientes que não lhe são naturais, e que estão repletos de microorganismos para os quais não tem defesas – o SARS-CoV-2 foi o maior exemplo disso, pelo seu potencial zoonótico e pandémico. Acresce a isto a facilidade de trânsito de pessoas, animais e alimentos promovida pela globalização, que catalisa a velocidade de propagação de agentes patogénicos, ao atravessarem o mundo inteiro numa questão de horas, e também as alterações climáticas, que obrigam a que espécies e vectores que não subsistiam em determinadas condições ambientais passem a disseminar-se.
A par disto, deparamo-nos com outras ameaças emergentes. A resistência aos antimicrobianos diz respeito, uma vez mais, à saúde humana, animal e ambiental, e provoca mais mortes anuais do que o VIH e a malária em todas as idades (cerca de 5 milhões, de acordo com a OMS). O uso irracional e abusivo de antimicrobianos por parte das pessoas, em paralelo com o seu consumo global na produção alimentar animal e a poluição antropogénica, criam genes e bactérias multirresistentes no meio ambiente, que podem impedir o tratamento de doenças consideradas comuns.
O One Health advoga a criação de sistemas de vigilância e de monitorização integrados, onde, a partir da intercolaboração entre as três saúdes, a partilha de informação e a análise de dados sejam facilitadas, permitindo uma resposta mais articulada, célere e eficaz a vários níveis, de cada vez que surge uma crise de saúde pública. Também a cooperação e comunicação interdisciplinar entre os vários profissionais de saúde, que deve ser fomentada desde a sua formação, são fundamentais para promover a saúde e prevenir a doença, desde as infecciosas até às não transmissíveis, como a obesidade ou o cancro.
O Conselho Nacional de Juventude abraça e assume como sua a bandeira do One Health, seguindo o exemplo dos estudantes, no Fórum Nacional de Estudantes de Saúde (que reúne os futuros enfermeiros, farmacêuticos, médicos, médicos dentistas, médicos veterinários, nutricionistas e psicólogos), que foram pioneiros em reivindicar e materializar, na primeira pessoa, este conceito em Portugal. Mas é preciso ir mais além do mero reconhecimento, na medida em que os decisores políticos têm de se assumir parceiros da juventude na discussão e co-construção de soluções e implementação de políticas públicas, para benefício da população e, em particular, das novas gerações. O futuro é agora.