O Teatro do Frio e as Sopa de Pedra numa polifonia física e vocal

Criação que junta uma companhia de teatro e um colectivo de canto feminino tem estreia esta quinta-feira no Teatro Carlos Alberto, no Porto. Nela o palco é lugar de escuta de um cancioneiro interior.

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Voz está em cena no Teatro Carlos Alberto até 6 de Novembro Teresa Pacheco Miranda
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A encenadora Catarina Lacerda Teresa Pacheco Miranda
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Retrato de grupo: Teatro do Frio e Sopa de Pedra Teresa Pacheco Miranda
Leve
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Teresa Pacheco Miranda
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Teresa Pacheco Miranda

“De quem é esta voz que nos cavalga?” Catarina Lacerda, encenadora do Teatro do Frio, resume nesta pergunta-provocação o mote de Voz, espectáculo “entre o concerto e o teatro físico” que a companhia portuense criou em parceria com o colectivo de canto feminino Sopa de Pedra, e que esta quinta-feira, às 19h, tem estreia no Teatro Carlos Alberto (TeCA).

No palco do teatro portuense, três actores do Teatro do Trio e seis cantoras das Sopa de Pedra começam por experimentar as expressões mais básicas da comunicação humana: a sombra de uma mão no alto, projectada no círculo de um foco de luz, e uma cantilena a capella de números e sons. Não há ainda linguagem nem gramática, há “a ideia de que as vozes, as palavras, antes de serem ditas, já andam cá a entoar há muito tempo, como um cancioneiro interior”, acrescenta Catarina Lacerda ao PÚBLICO, no final de um ensaio.

“Consegues ouvir-te menos?”; “Às vezes, só me apetece subir no alto”; “5,4,3,2,1”; “Era uma coisa contra”; “Acreditas em Deus? Acredito na carne e na pedra”; “Bem-vindo ao teatro”; “Anda-me aqui ajudar”; e outras frases de uma linguagem ainda à procura de sentido, apenas vozes a serem ditas para serem escutadas…

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Neste espectáculo a voz torna-se corpo e o corpo torna-se voz Teresa Pacheco Miranda

Mais do que uma peça ou um concerto convencional, Voz é uma experiência de “teatro enquanto lugar de polifonia física e vocal”, diz a encenadora e directora artística do Teatro do Frio, companhia que desde há vários anos vem trabalhando o tema da voz como corpo polifónico. Daí que o encontro agora concretizado com as Sopa de Pedra faça todo o sentido. O projecto de Voz é “propor um lugar de escuta àquilo que atravessa neste momento” a companhia, a partir da “ideia da filósofa [norte-americana] Donna J. Haraway, que defende ser preciso contar histórias terríveis de forma inspiradora”, explica Catarina Lacerda.

Rita Campos Costa, pelo lado das Sopa de Pedra, diz que o desafio do Teatro Frio veio, por sua vez, permitir dar sequência ao trabalho já de algum modo encetado pelo grupo no álbum lançado este ano, Do Claro ao Breu, o segundo da sua discografia.

Se o primeiro disco, Ao Longe Já Se Ouvia (2017), registava um trabalho vocal de harmonizações e rearranjos de canções polifónicas de raiz tradicional, em tom de concerto, o novo álbum “é de sonoplastia e de texturas originais, onde há muito mais a ideia da voz como plasticidade, como forma de expressão”, explica a cantora das Sopa de Pedra.

“Trazer agora para o palco, em contracena, uma data de outras coisas e formas de estar que, mais do que cantar, passam por ouvir e estar fisicamente é algo mesmo novo para nós”, acrescenta Rita Campos Costa.

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Voz, criação conjunta do Teatro do Frio e das Sopa de Pedra Teresa Pacheco Miranda

Um lugar de criação e de escuta

O texto de Voz, da responsabilidade de Diogo Liberano, dramaturgo brasileiro recém-radicado no Porto, resultou de um trabalho colectivo em que cada actor-cantor partilhou em palco informação que trazia da rua, do seu dia-a-dia.

“O grande desafio que lançámos à equipa foi estarmos todos a partir de um lugar de criação, de escuta. O Diogo teve este mega desafio de escrever algo que pudesse corresponder a uma lógica mais oral. Foi tudo levado para o espaço de ensaio e transformado em voz e em corpo”, aponta Catarina Lacerda.

Do lado da música, do canto, também a improvisação foi o principal motor. “O que cantamos são composições originais que surgiram de improvisos, de experiências, do que o corpo, o movimento e a conversa nos dizem sobre o nosso imaginário sonoro, mas também do diálogo com a música electrónica [de Rodrigo Malvar e Filipe Lopes]”, diz Rita Campos Costa, lembrando que a única excepção nesta “banda sonora” é o rearranjo de uma cantiga das malhadas do Gerês.

Em paralelo com as diferentes vozes que compõem esta Voz, a dança, a mímica, o malabarismo e o teatro de sombras são também condimentos de uma criação que se apresenta como “uma experiência sonora, visual e imersiva”, um espectáculo em que, em vez de ser a quarta parede, “o espectador é chamado para o jogo, imerso num som que está por todo o lado”, diz a encenadora.

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Voz está em cena no Teatro Carlos Alberto até 6 de Novembro Teresa Pacheco Miranda

No Porto, esta co-produção do Teatro do Frio com o Teatro Nacional São João e o Teatro Municipal da Guarda vai ficar em cena até ao próximo domingo. No dia 18 de Novembro, sobe ao Teatro Municipal de Vila Real, e no próximo ano será apresentada na Guarda, no decurso de uma digressão que deverá chegar a outros palcos do país.

Paralelamente, e seguindo a prática e o projecto editorial do Teatro do Frio, e sempre num “corpo comum” com as Sopa de Pedra, nota Catarina Lacerda, Voz deverá assumir um formato multimédia ainda a definir.

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