A temperatura média da Europa tem aumentado cerca de 0,5 graus Celsius por década desde 1991, o dobro da média mundial, adianta o novo relatório publicado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) dedicado ao impacto do clima na Europa em 2021, divulgado nesta quarta-feira. O relatório traça o panorama meteorológico do continente europeu ocorrido no ano passado, avalia os impactos dos fenómenos meteorológicos extremos e também a resposta europeia à crise climática.
A temperatura média anual em 2021 para a Europa foi 0,9 graus Celsius acima da média entre 1981 e 2010 e 1,44 graus acima da média entre 1961 e 1990. Estes valores colocam 2021 entre o sexto e o décimo ano mais quente para a Europa. Segundo o documento, a temperatura média global para 2021 foi 1,11 graus acima da média pré-industrial, um valor menor relativamente do que os anos anteriores, que estará associado ao efeito de arrefecimento provocado pelo fenómeno climático La Niña (quando as temperaturas superficiais de parte do oceano Pacífico estão abaixo da média).
Em termos de fenómenos climáticos extremos, 2021 já poderá estar distante da memória de muitos europeus, principalmente depois de o Verão de 2022 ter oferecido ao continente recordes de temperatura, secas prolongadas e incêndios intensos. No entanto, 2021 ficou marcado por fenómenos extremos como as chuvas intensas que inundaram partes da Alemanha e da Bélgica, os incêndios devastadores na Turquia e na Grécia e chuvas no ponto mais alto da calote polar da Gronelândia, um registo inédito até então.
Ao todo, o relatório da OMM dá conta de 51 “fenómenos perigosos a nível meteorológico, hidrológico e climatológico” ocorridos em 2021 que resultaram em 297 mortes, afectaram directamente 510.000 pessoas e causaram perdas económicas no valor de 51.978 milhões de euros por danos. De todos os fenómenos ocorridos, as inundações provocaram os efeitos mais devastadores, causando 85% das mortes, afectando 78% das 510.000 pessoas e provocando 83% das perdas económicas.
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“A Europa apresenta uma imagem viva de um mundo em aquecimento e recorda-nos que até mesmo as sociedades bem preparadas não estão a salvo dos impactos de fenómenos meteorológicos extremos”, diz Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, num comunicado daquela instituição sobre o novo relatório. “Este ano, tal como em 2021, grandes partes da Europa foram afectadas por ondas de calor e secas extensas, provocando incêndios florestais. Em 2021, inundações excepcionais causaram mortes e devastação”, recorda o perito.
Recorde de deslocados
O Estado do Clima na Europa 2021 dá informações sobre “o aumento das temperaturas, as ondas de calor marinhas e terrestres, os fenómenos meteorológicos extremos, as mudanças nos padrões das chuvas e o recuo dos gelos e das neves”, de acordo com o comunicado. O aquecimento nas últimas décadas já provocou a diminuição de 30 metros de altura dos glaciares alpinos entre 1997 e 2021. Um fenómeno que não parou em 2022.
O ano passado também ofereceu um recorde em termos de pessoas deslocadas internamente devido aos fenómenos extremos. Ao todo, 260.000 cidadãos foram obrigados a saírem das suas casas. Este é o maior número desde que a OMM iniciou esta contagem, em 2008, e é um valor três vezes maior comparado com a média entre 2008 e 2020. Segundo o relatório, são os refugiados de outros países que vieram para Europa a população mais vulnerável aos fenómenos meteorológicos extremos.
O documento chama ainda atenção para a resposta à crise climática. A Europa é um dos continentes mais bem preparados em termos de sistemas de aviso prévio a fenómenos meteorológicos extremos, que já abrangem 75% da sua população, refere.
“Em relação à mitigação, o bom ritmo na redução das emissões dos gases com efeito de estufa na região deverá continuar e a ambição deverá aumentar. A Europa pode desempenhar um papel-chave ao alcançar uma sociedade neutra a nível de emissões de carbono a meio do século cumprindo o Acordo de Paris”, diz Petteri Taalas.