Coldplay e Golshifteh Farahani tocam canção de protesto iraniana
Num concerto em Buenos Aires, na Argentina, a banda britânica de Chris Martin tocou a canção Baraye, do artista iraniano Shervin Hajipour, acompanhada pela actriz exilada Golshifteh Farahani.
“Vamos tocar agora uma canção que está a ser cantada por muitas pessoas no Irão”, avisou o vocalista dos Coldplay Chris Martin, e “também por muitos iranianos na diáspora, pessoas que deixaram o país antes da revolução”, num concerto que a banda britânica deu de sexta-feira para sábado em Buenos Aires, na Argentina.
“Não sei se vocês viram nas notícias, mas muitas jovens e muitos jovens estão a lutar pela liberdade e pelo direito de serem eles próprios”, acrescentou, afirmando que a sua banda defende que todas as pessoas podem ser elas mesmas desde que não magoem todos os outros. Por isso, o grupo envia todo o seu “amor e apoio” a estes “bravos jovens” iranianos que estão a lutar pela liberdade.
“Há uma canção que eles cantam, Baraye, do artista Shervin Hajipour, que está a ter problemas com as autoridades só por ter escrito uma canção sobre as pessoas serem livres”, continuou o músico antes de chamar ao palco a actriz iraniana Golshifteh Farahani, que saiu do Irão em 2008 perseguida pelo regime islâmico. Forçada ao exílio a actriz tem agora nacionalidade francesa.
A actriz de 39 anos, que cantou em farsi, deu no mês passado uma entrevista ao jornal Le Monde onde fazia uma comparação entre a sua geração e os jovens iranianos de agora. Se na época em que vivia no Irão, ela e outros jovens eram parados pela polícia da moralidade abaixavam a cabeça e pediam desculpa. Os jovens iranianos de hoje, “erguem o queixo, quase desafiadores, com uma audácia louca: ‘Estou a fazê-lo pelo sangue de Mahsa Amini que vocês derramaram”. Quer parar-me? Pare-me! Quer matar-me? Mate-me!’ É espantoso”, contava a actriz ao diário francês referindo-se à luta e aos protestos nacionais provocados pela morte de Mahsa Amini, a rapariga curda de 22 anos que morreu a 16 de Setembro depois de ter sido detida por estar a usar “indevidamente” o hijab.
Depois de convidar Farahani para subir ao palco em Buenos Aires para os ajudar a cantar, Chris Martin pediu aos ouvintes que mesmo que não conhecessem a música, dessem tudo para que a mensagem chegasse ao Irão. O espectáculo foi transmitido em directo para diversas salas de cinema em 81 países, mas não no Irão onde tocar ou cantar esta música é proibido.
Ao mesmo tempo que a actriz Golshifteh Farahani cantava no palco, era transmitido um vídeo com o próprio Shervin Hajipour a cantar a sua canção que se tornou no Irão um hino de protesto, cujo título pode ser traduzido como “por causa de” e cujos versos - “por causa de dançar nas ruas”; “por causa de todas as vezes que tínhamos medo de beijar os nossos amantes”; “por causa do anseio por uma vida normal” ou “por causa das mulheres, da vida, da liberdade” - são retirados de 31 mensagens que cidadãos iranianos postaram online onde explicavam porque estavam a protestar.
A música tornou-se viral no Irão e não só, o artista de 25 anos foi preso, obrigado a retirar a música do seu Instagram e libertado sob o pagamento de uma fiança. Entretanto uma campanha no TikTok incentivou os utilizadores a nomear a música Baraye para um dos novos prémios especiais de mérito dos Grammys, atribuído à melhor canção pela mudança social. E da Recording Academy já recebeu mais de 95 mil submissões.