ONU e Turquia tentam salvar acordo de exportação de cereais da Ucrânia

Ucrânia diz que há 218 navios bloqueados nos portos depois de a Rússia abandonar o acordo. António Guterres e ministro turco dizem-se empenhados em não o deixar morrer.

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Odessa era um dos três portos envolvidos na operação Miguel Manso/Público

“Profundamente preocupado” com a saída da Rússia do acordo de exportação de cereais da Ucrânia, António Guterres decidiu este domingo adiar uma viagem à Argélia para se “empenhar em contactos intensos” que possam levar a uma reversão da decisão, anunciou o seu porta-voz.

O secretário-geral da ONU tinha apelado à renovação do acordo poucas horas antes de a Rússia anunciar que o abandonava, justificando essa posição com o ataque contra a sua frota naval militar em Sebastopol, na Crimeia, cuja responsabilidade atribuiu à Ucrânia.

A saída de cereais e fertilizantes dos portos ucranianos parou imediatamente. Numa carta que enviou a Guterres a formalizar a suspensão da sua participação no acordo “por tempo indeterminado”, o embaixador russo junto da ONU alegou que os ucranianos usaram a protecção dos corredores marítimos previstos no acordo para realizarem o ataque.

Através do seu ministro das Infra-Estruturas, a Ucrânia, cujos responsáveis tinham já acusado a Rússia de inventar um ataque para ter “um falso pretexto” que lhe permitisse sair do acordo, disse que há 218 navios “bloqueados” pela decisão de Moscovo.

Apesar da aparente determinação russa, o Ministério da Defesa da Turquia referiu-se este domingo à situação como “uma suspensão temporária” e garantiu que os navios que já se encontram junto a Istambul serão inspeccionados e poderão seguir caminho.

A Turquia, que com a ONU mediou a assinatura do entendimento no fim de Julho, diz-se empenhada em não o deixar morrer. “Relembramos as partes da importância de continuar com esta iniciativa, que tem um impacto positivo para a Humanidade em todo o mundo e prova que todas as crises podem ser resolvidas com boa vontade e diálogo”, disse o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, citado pelo canal televisivo TRT.

Também a União Europeia e a NATO pediram à Rússia que reconsidere o seu posicionamento. Já o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou a decisão como “simplesmente escandalosa”.

A Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de cereais e exportava cerca de cinco milhões de toneladas métricas antes da guerra. Desde que o acordo foi posto em prática, em Agosto, de Odessa e de outros dois portos saíram cerca de nove milhões de toneladas de milho, trigo, derivados de girassol, cevada e soja. A ONU diz que o acordo permitiu salvar cerca de 100 milhões de pessoas da pobreza extrema.

Enquanto isto decorria no mar Negro, no mar de Azov a Rússia exportava cereais ucranianos a partir da região ocupada de Zaporijjia, segundo uma investigação do Financial Times. O jornal diz este domingo que o Estado russo montou uma empresa e que conseguiu transportar carga do porto ucraniano de Berdiansk para a Crimeia e para a Rússia continental, onde terão sido forjados documentos para esconder a real origem dos cereais. Estes terão sido vendidos na Turquia, embora o FT não tenha conseguido identificar o comprador.

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