Leo Bianchini celebra num espectáculo inédito as independências do Brasil

Do grito do Ipiranga de 1822 à Semana da Arte Moderna de 1922, o cantor e compositor brasileiro criou um espectáculo comemorativo que se estreia este sábado, no Porto.

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Leo Bianchini DR

O nome diz tudo: Ouviram do Abaporu. O “ouviram” vem do primeiro verso do Hino Nacional Brasileiro, “Ouviram do Ipiranga”, e celebra os 200 anos da independência do Brasil; e Abaporu é o título do mais célebre quadro de Tarsila do Amaral (1886-1973), um ícone do modernismo brasileiro que inspirou o movimento antropofágico, assinalando aqui outra celebração, a dos 100 anos da histórica Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Fundindo as duas datas, o cantor e compositor brasileiro Leo Bianchini, que reside em Vila do Conde desde 2019, criou em conjunto com a também cantora e investigadora Naira Marcatto um espectáculo que celebra estas duas independências do Brasil, a do país e a da sua arte. Estreia-se este sábado no Porto, no Salão Ático do Coliseu (19h) e dia 4 em Vila do Conde, no Auditório Municipal (21h30).

“O Abaporu é o nome da pintura, que simboliza muito a Semana de 1922, que é uma das independências que está sendo celebrada nesta data, porque decidiram fazê-la 100 anos depois da independência do Brasil”, diz Leo Bianchini ao PÚBLICO. “Não coincidentemente, as datas coincidem. Como se fosse uma segunda independência simbólica, a auto-suficiência artística, o reconhecimento cultural brasileiro. Então o título junta essas duas datas, aí embutidas.”

O quadro Abaporu (que em tupi quem dizer “o homem que come gente”) foi oferecido em 1928 por Tarsila ao seu marido, o poeta e escritor Oswald de Andrade (1890-1954), que se inspirou nele para criar, com Tarsila, o movimento antropofágico. Oswald viria a ser, junto com Mário de Andrade, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna em São Paulo. “Nesse momento”, diz Leo, “a classe artística e intelectual brasileira, já um pouco globalizada e mundializada, ia recebendo influências europeias e não só e discutindo isso. Porque em 1922 já havia a revolução industrial, estávamos no pós-I Guerra Mundial e tínhamos um bom desenvolvimento cultural. E o antropofagismo surge no Brasil dessa forma, mas já tivera expressão noutros países, essa coisa da deglutição cultural dos outros para depois fazer a sua própria arte e cultura.”

O espectáculo que agora se estreia nasceu de uma proposta. “A gente recebeu um convite da embaixada brasileira em Madrid, no ano passado, e criámos um espectáculo para ser ali apresentado, na Casa da América, celebrando os 200 anos. E lá fizemos uma pesquisa histórica dos 200 anos, temporalmente, daquilo que aconteceu desde essa data até aos dias de hoje. E percebemos que era muito vasto e muito longo querer colocar no espectáculo 200 anos de música. Aí, começámos a perceber o que era mais pertinente para ser mostrado agora. Perto do que era mais evolucionário, mais cultural e também de uma questão mais política.”

O espectáculo em Madrid acabou por ser um esboço, nascendo aí, então, um fio condutor e uma estrutura narrativa que agora ganham corpo nestes concertos: “Escolhemos canções que de alguma forma pontuassem muito bem alguns aspectos do que a gente estava querendo demonstrar do Brasil”. E isso, misturando – e até colando – músicas que vão de Jackson do Pandeiro a Caetano Veloso ou ao funk carioca, a par de projecções vídeo, procura conduzir o público, como se diz no texto que anuncia o espectáculo, “a viajar no tempo e na história do Brasil, contada pelo seu maior bem cultural, a música.” O primeiro espectáculo integra-se na programação MPB - Movimento Porto Brasil e o segundo realiza-se no auditório da cidade portuguesa que Leo Bianchini, nascido em São Paulo, escolheu para viver: Vila do Conde.

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