Golfinhos no Tejo: por um estuário mais saudável

Para perceber porque os golfinhos regressaram ao Tejo, é preciso olhar para o estuário que os acolhe, as condições que nele mudaram e o que os motiva a visitar o estuário do Tejo.

Foi com esta premissa que a ANP

WWF criou o primeiro relatório sobre o estuário do Tejo, à luz de um aparente regresso dos golfinhos. O relatório “Golfinhos no Tejo, por um estuário mais saudável” confirma algumas melhorias ambientais, como a qualidade da água e o aumento da abundância de algumas espécies de peixe, que podem estar a atrair os golfinhos ao estuário do Tejo. No entanto, há ainda muito a fazer pelo estuário mais ameaçado do país e que estava numa situação deveras preocupante há 30 anos.

Ocupando uma zona de transição entre a terra e o mar, os estuários são dos ecossistemas mais produtivos do planeta e, desde há milénios, são áreas preferenciais para o estabelecimento de comunidades humanas. O estuário do Tejo, o maior a nível nacional, é um porto de abrigo para milhares de aves migratórias, razão que levou à sua classificação em Reserva Natural, e uma zona de maternidade de uma grande diversidade de peixes, inclusive de espécies comercialmente importantes para as comunidades piscatórias.

O aumento da abundância de espécies marinhas, como a tainha, o choco e o sargo, e até de alguns habitats, como é o caso das ervas marinhas, podem ser peças importantes para explicar a presença destes golfinhos no estuário. No entanto, sendo os estuários sistemas altamente complexos e dinâmicos e sujeitos a muitas pressões humanas, é difícil perceber por quanto mais tempo iremos contar com a sua presença. Além disso, muitas das atividades humanas são ameaças aos golfinhos (ruído marinho, poluição, entre outras), e a sua permanência prolongada em ambientes com níveis de perturbação elevados pode ter consequências a médio e longo prazo.

A excecional riqueza paisagística do estuário do Tejo alia-se aos variados serviços de ecossistema que fornece, desde a grande capacidade de reter carbono e reciclar nutrientes, a albergar muitas atividades de lazer e até de pesca. Estes serviços ambientais não são só essenciais à natureza, mas também às pessoas que aqui vivem.

Este relatório demonstra claramente que o bom estado ambiental do estuário e a sua biodiversidade são um capital natural valiosíssimo que é necessário preservar e até recuperar. A nossa principal recomendação é a criação de uma Comissão de Acompanhamento do Estuário do Tejo, alicerçada na Área Metropolitana de Lisboa, que inclua todos os stakeholders (municípios e seus habitantes, entidades públicas, pescadores, empresas de transporte, água e saneamento, academia e entidades científicas, entre outros) e defina objectivos comuns e acções claras ao nível da conservação e restauro ambiental, gestão e governança, conhecimento e investigação, literacia e educação ambiental.

É necessário um novo olhar ao estuário do Tejo – e o envolvimento e compromisso de todas as partes que usam e beneficiam dele –, se queremos efetivamente rumar a um estuário mais saudável para nós e para o oceano, “usufruindo” da presença de uma das suas espécies mais icónicas: os golfinhos.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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