João Félix, o “menino prodígio” que já não é menino e demora a ser prodígio

No Atlético de Madrid desde 2019, Félix nunca se afirmou totalmente na equipa que pagou 127 milhões de euros por ele. E tarda em fazer o mesmo na selecção.

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João Félix a actuar pelo Atlético de Madrid em 2020, na Champions League, frente ao RB Salzburg. Reuters/SERGIO PEREZ

Ainda hoje é, por larga margem, a transferência mais cara de sempre do Atlético de Madrid. Após uma época explosiva em 2018/19 no Benfica (20 golos e oito assistências em 43 jogos), a equipa treinada por Diego Simeone pagou 127,2 milhões de euros pelo “menino-prodígio” (como era rotulado na altura), João Félix. Para se ter uma ideia das esperanças depositadas no português, a sua transferência é, ainda hoje, a quinta mais cara de sempre no futebol mundial. No entanto, no que toca ao rendimento desportivo de Félix ele tem deixado a desejar.

Convém referir que Félix beneficia quando joga como segundo avançado, ao lado de um ponta-de-lança e em zonas centrais do terreno, como acontecia no Benfica. No entanto, foi comum ver Diego Simeone a colocar Félix a jogar colado às duas alas, com mais tarefas defensivas e estando por isso mais longe da baliza adversária.

As lesões que o internacional português tem sofrido também são um aspecto com impacto no seu rendimento. Nas primeiras três épocas que fez no Atlético, Félix falhou 39 jogos por lesão – exactamente 13 em cada temporada.

Mas isto não explica tudo. Não explica que em 125 partidas pelo Atlético (jogando, em média, 60 minutos por jogo), Félix tenha apontado “apenas” 29 golos e feito 18 assistências. Por outras palavras, protagonizou uma acção para golo (marcando ou assistindo) a cada 158 minutos.

Não explica que, em 2021, jogador e clube tenham vencido o campeonato espanhol, numa campanha em que Félix, fez sete golos e seis assistências e até começou a titular mas acabou por perder esse lugar a meio da época.

“Golden Boy” e selecção

Entregue todos os anos pelo jornal italiano Tuttosport, o “Golden Boy” é um prémio destinado ao melhor jogador a actuar na Europa com menos de 21 anos.

João Félix recebeu esta distinção em 2019, poucos meses depois de chegar a Madrid. No entanto, dos últimos cinco galardoados com o prémio, Félix é aquele que mais tarda em afirmar-se no panorama do futebol europeu.

Kylian Mbappé foi o “Golden Boy” de 2017 e com apenas 23 anos, já marcou 242 golos, sendo uma das maiores figuras do futebol mundial. No ano seguinte, Matthijs de Ligt venceu o prémio e o central é hoje habitual titular do Bayern Munique, depois de já o ter sido na Juventus.

A seguir a Félix, foi Haaland quem conquistou o troféu e, à semelhança de Mbappé, é agora um dos melhores jogadores do mundo, tendo já batido vários recordes relacionados com golos marcados. E o último galardoado foi Pedri González, o médio que é titular indiscutível em Barcelona e por Espanha.

Portanto, destes cinco jogadores, Félix é o único a não ser habitual titular no seu clube ou na sua selecção. E de facto, a história de Félix com a camisola das quinas tem... pouca história.

Conquistou a Liga das Nações de 2019, ao jogar 70 minutos na meia-final frente à Suíça (na final, com os Países Baixos, não saiu do banco). De resto, nos 23 jogos que fez por Portugal (foi titular em 10) apontou apenas três golos. De momento, não contando com jogos amigáveis, Félix não joga a titular por Portugal desde Novembro de 2020.

O próximo passo

Na presente época, tem sido patente a decadência da relação entre João Félix e o seu técnico, Diego Simeone. Com o atleta a jogar apenas 54 minutos nos últimos 10 jogos do Atlético de Madrid, o internacional português não tem escondido o seu descontentamento.

Curiosamente, o início desta época não poderia ter sido melhor para as duas partes: Félix fez três assistências na primeira jornada da Liga espanhola, na qual o “Atleti” venceu, por 3-0, o Getafe.

Depois desse jogo, o jornal espanhol Marca noticiava as sete mudanças que João Félix passara, desde “jovem-promessa” a peça essencial no esquema de Simeone e uma delas era mesmo o entendimento entre os dois: “Ninguém duvida de que estão no mesmo barco”. No entanto, desde aí, a história tem sido outra.

Aparentemente infeliz em Madrid, a hipótese de Félix poder vir para o Benfica começou a ser discutida recentemente. O contrato do jogador com o Atlético de Madrid só termina em Junho de 2026 e tem uma cláusula de rescisão de 350 milhões de euros. Portanto, o único regresso possível ao Benfica, neste momento, teria que ser através de um empréstimo. Roger Schmidt, actual técnico dos “encarnados”, disse nesta sexta-feira, na antevisão à partida com o Desp. Chaves, não achar que tal seja viável: “Acredito que seja impossível, mas se fosse possível, claro que seria bem-vindo.”

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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