Ordem dos Farmacêuticos: afirmações de ministro põem em causa honorabilidade da classe

Em causa estão declarações de Manuel Pizarro sobre o adiamento do início de tratamentos oncológicos devido à greve dos farmacêuticos.

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Presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos assegurou que todos os pedidos urgentes que chegaram às farmácias hospitalares foram respondidos MIGUEL MANSO

A Ordem dos Farmacêuticos criticou esta quinta-feira as declarações do ministro da Saúde sobre o adiamento do início de tratamentos oncológicos devido à greve dos farmacêuticos, afirmando que põem em “causa a honorabilidade e a ética profissional” da classe.

Em comunicado, a ordem profissional diz que não recebeu “qualquer reclamação sobre a prestação de serviços essenciais por parte dos farmacêuticos” durante a greve de dois dias destes profissionais que terminou na quarta-feira.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, apelou na quarta-feira, em declarações à agência Lusa, ao “compromisso ético dos farmacêuticos” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), considerando que “os doentes oncológicos não podem ser usados num processo de luta laboral, seja qual for esse processo e a sua legitimidade”.

“Naturalmente, lamento profundamente que alguns doentes oncológicos tenham visto adiado o início do seu tratamento em função da greve dos farmacêuticos. E, enquanto ministro da Saúde, eu peço desculpa a essas pessoas, que, já fragilizadas pela doença, acabam por se sentir inevitavelmente mais inseguras nestas circunstâncias. Essas pessoas têm a minha total solidariedade”, afirmou Manuel Pizarro.

A Ordem dos Farmacêuticos (OM) lamentou estas declarações, considerando que “colocam em “causa a honorabilidade e a ética profissional de toda a classe”.

Os farmacêuticos que trabalham no SNS concluíram na quarta-feira dois dias de greve, “a primeira greve exclusiva dos trabalhadores farmacêuticos na Administração Pública”, lembram.

“A paralisação foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF), com a antecedência exigida nos termos da lei, dando assim oportunidade para reorganização das actividades, garantindo o cumprimento dos serviços mínimos em todas as unidades de saúde”, salienta, realçando a “atitude responsável” por parte destes profissionais.

O ministro da Saúde ressalvou que “não está em causa a utilização do direito à greve”, mas insistiu: “Acho que é difícil encontrar razoabilidade numa forma de luta que põe em causa os doentes mais vulneráveis, que são os doentes oncológicos”.

O presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, que convocou a greve, assegurou que todos os pedidos urgentes que chegaram às farmácias hospitalares foram respondidos, refutando as declarações de Manuel Pizarro.

Numa nota emitida durante a tarde de quarta-feira, o sindicato disse estranhar que o governante não tenha a mesma preocupação com os adiamentos e continuação destes tratamentos “por falta de recursos humanos, de equipamentos, meios complementares de diagnóstico ou de condições logísticas adequadas” para a sua administração.