Bolsonaro chama comandantes militares para reunião antes de ofensiva contra TSE
Presidente diz que vai até as “últimas consequências” ao anunciar que vai recorrer da decisão de Alexandre de Moraes em arquivar queixa sobre supressão de inserções de rádio em benefício de Lula.
O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, convocou os três comandantes das Forças Armadas para uma reunião na noite de quarta-feira, na qual foi discutido o suposto boicote à propaganda de rádio e televisão da campanha do chefe do executivo.
Após o encontro, Bolsonaro concedeu uma conferência de imprensa em que anunciou que irá recorrer até “às últimas consequências” da decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, de arquivar a acção em que a sua campanha alega que houve supressão de inserções de rádio no Norte e no Nordeste. Bolsonaro disse que Moraes “matou no peito” a acção.
Compareceram os três comandantes militares: o general Marco Antônio Freire Gomes (Exército), o tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Júnior (Aeronáutica) e o almirante Almir Garnier Santos (Marinha). Também estava presente o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.
Também compareceram ministros de Estado, como Anderson Torres (Justiça), Célio Faria (Secretaria do Governo) e Carlos França (Negócios Estrangeiros).
No momento em que Bolsonaro concedeu a entrevista, voltando a fazer acusações sem provas, estavam ao lado do mandatário apenas Torres e o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno.
Os eventos desta quarta-feira provocaram rumores de uma acção mais drástica do Presidente, que chegou a mudar totalmente o seu roteiro para voltar a Brasília. Bolsonaro estava em Minas Gerais e seguiria directamente para pernoitar no Rio de Janeiro, mas decidiu voltar para a capital federal “diante da gravidade dos factos”.
A Folha apurou que o comandante do Exército não avisou os militares do Alto Comando da força sobre a reunião, como geralmente costuma fazer. Os generais do mais alto escalão ficaram surpresos com a ida e aguardavam ainda durante a noite um retorno sobre os temas tratados.
Existe a percepção entre os militares que as denúncias sobre as inserções nas rádios são graves e devem ser investigadas. Por outro lado, também defendem que o assunto é responsabilidade da Justiça Eleitoral e que as Forças Armadas não devem embarcar em qualquer tipo de tese de adiamento das eleições.
No Ministério da Defesa, aliados de Paulo Sérgio Nogueira avaliam que Moraes tem extrapolado as suas decisões e contribuído para a escalada da crise.
Eles citam como exemplo a decisão do presidente do TSE de negar sugestões das Forças Armadas para melhorar a fiscalização na segunda volta das eleições.
O entendimento de militares na Defesa é que Moraes tem cometido ilegalidades, como no caso das inserções e retiradas de conteúdo das redes sociais, que prejudicam o andamento do processo eleitoral.
As Forças Armadas foram incluídas pelo TSE na lista de entidades fiscalizadoras da eleição. Bolsonaro costuma fazer ataques sem provas às urnas electrónicas e afirma que irá aguardar relatório dos militares sobre a lisura do pleito para aceitar o resultado da eleição.
Na conferência de imprensa, o Presidente disse que tem provas “contundentes” de que foi prejudicado por terem sido transmitidas mais inserções de Lula do que dele.
“Certos lugares que achava que iria bem e poderia, até ganhar, nossa análise, pode ter havido outros factores, vimos que perdemos. Com toda a certeza, as inserções de rádio fizeram a diferença ou poderiam ter feito a diferença. Não existe outro factor que a gente possa levar em conta nesse momento”, disse o chefe do executivo.
O Presidente recusou-se a responder a perguntas dos jornalistas e retirou-se após o pronunciamento.
A reunião no Palácio da Alvorada e as declarações de Jair Bolsonaro aconteceram horas após Alexandre de Moraes rejeitar a acção apresentada pela campanha do Presidente sobre o suposto boicote de rádios na veiculação da propaganda eleitoral.
Moraes disse que a acção de Bolsonaro não tem provas e se baseia no levantamento de uma empresa “não especializada em auditoria”.
O presidente do TSE apontou o possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar a segunda volta do pleito na sua última semana” e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das “milícias digitais”, que é relatado por ele mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).
Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo