BCE sobe as taxas de juro em mais 0,75 pontos percentuais
É a terceira reunião consecutiva do BCE de onde sai uma grande subida. A ideia do BCE é controlar a inflação, mas o risco de recessão na zona euro e em Portugal agrava-se.
Cumprindo aquilo que era a expectativa dos mercados, o Banco Central Europeu (BCE) voltou, esta quinta-feira, a subir as suas taxas de juro de referência em 0,75 pontos percentuais. É o terceiro movimento forte de taxas consecutivo na zona euro, confirmando a urgência crescente sentida pela autoridade monetária em adoptar medidas que limitem a escalada da inflação. Para os portugueses, a consequência é o agravamento das prestações de crédito pagas aos bancos.
A decisão tomada pelo conselho de governadores do BCE colocou a taxa de juro de refinanciamento do BCE (a taxa a que o banco central empresta dinheiro aos bancos comerciais no curto prazo) em 2% e taxa de juro de depósito (a taxa a que os bancos comerciais podem depositar as suas reservas no banco central) a 1,5%.
Foi no passado mês de Julho, depois de um longo período em que as taxas se fixaram em mínimos históricos, que o BCE iniciou o processo de subida dos juros. Nessa altura, a subida foi de 0,5 pontos percentuais.
Em Setembro, a subida realizada foi de 0,75 pontos, a mesma dose repetida agora na reunião de Outubro. Para os próximos meses, esperam-se novas subidas.
A entidade liderada por Christine Lagarde revela, com esta nova subida substancial das taxas, que está com pressa para pôr os custos de financiamento na zona euro a níveis mais altos. A ideia é a de que é preciso, o quanto antes possível, impedir que a inflação elevada actual passe a ser vista pelas famílias e as empresas como permanente, algo que alteraria os seus comportamentos e contribuiria para a própria persistência da inflação.
Ao subir as taxas de juro, o BCE tenta limitar a procura na economia, retirando capacidade de consumo às famílias (que passam a ter de suportar prestações dos seus empréstimos mais pesadas e ficam com um acesso mais difícil ao crédito) e capacidade de investimento às empresas. Ao reduzir a procura, o banco central espera que os preços de equilíbrio dos produtos acabem por baixar, ou, pelo menos, não subir tanto como agora.
O problema é que, ao mesmo tempo que tenta controlar a inflação, o banco central pode estar também a contribuir para empurrar a economia para uma recessão. Os sinais de deterioração da conjuntura são evidentes na zona euro e este golpe na procura infligido pelo banco central reforça as pressões negativas sentidas pela economia.
Em Setembro, a taxa de inflação na zona euro atingiu os 9,9%, o valor mais alto deste a criação da moeda única. Em Portugal, este indicador (harmonizado) foi de 9,8% no mesmo período. No que diz respeito à economia, embora a zona euro ainda tenha registado uma taxa de crescimento positiva no segundo trimestre deste ano (em Portugal a variação do PIB foi nula), a expectativa é a de que nos terceiro e quarto trimestres, a taxa de crescimento da economia possa vir a ser negativa, o que confirmaria que, neste momento, a zona euro estaria já em situação de recessão técnica.
Para além do efeito negativo que se pode registar na actividade económica, para as famílias e empresas portuguesas, o impacto desta medida do BCE é quase imediato, já que uma subida das taxas de juro de referência do banco central reflecte-se no nível das taxas Euribor, que servem de indexante à grande maioria dos créditos concedidos no país.
Esta quarta-feira, no debate parlamentar sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2022, António Costa criticou a estratégia seguida pelo BCE no combate à inflação. “Sucessivas subidas das taxas de juro não contribuem para o controlo da inflação, contribuem para aumentar o risco de recessão das economias europeias”, disse, em mais um sinal da crescente divergência de políticas entre o banco central e os governos na zona euro.
Para além da subida das taxa de juro de referência, o conselho do BCE anunciou igualmente, no comunicado publicado esta quinta-feira, que decidiu ajustar as taxas de juro aplicada no programa de empréstimos de longo prazo concedidos aos bancos da zona euro durante a pandemia (TLTRO III).
Estes empréstimos foram concedidos a taxas de juro muito baixas, mesmo negativas, para garantir a chegada de liquidez à economia, mas agora que o objectivo da política do BCE é o oposto – o objectivo é que as taxas de juro aplicadas nestes empréstimos convirjam com as taxas de referência do banco central.
Os bancos portugueses estão entre os que mais aproveitaram este crédito ultrabarato do BCE para garantir os fundos de que precisam, podendo agora ver estas condições de acesso favoráveis serem-lhe progressivamente retiradas.
Christine Lagarde irá, esta quinta-feira ao início da tarde, explicar em conferência de imprensa as medidas tomadas com maior pormenor.