Milhares de pessoas juntam-se em protesto na cidade natal de Mahsa Amini
No 40.º dia da morte da mulher de 22 anos, muitos desafiaram as estradas cortadas e o reforço policial para se manifestarem. Autoridades terão reagido com violência. EUA aprovam novas sanções.
O cemitério de Aichi, na cidade iraniana de Saqqez, encheu-se nesta quarta-feira de milhares de pessoas que pretendiam homenagear Mahsa Amini no 40.º dia desde a sua morte e continuar os protestos contra o regime.
Segundo a AFP e a Reuters, que citam organizações de direitos humanos e testemunhas no local, as forças de segurança abriram fogo e atingiram os manifestantes com gás lacrimogéneo. A agência noticiosa iraniana Isna relata que cerca de dez mil pessoas se deslocaram ao cemitério e que houve confrontos entre os manifestantes e a polícia. O serviço de Internet foi desligado na cidade.
Vários vídeos partilhados nas redes sociais mostram uma enorme coluna de gente que se desloca a pé para o cemitério, uma vez que a polícia cortou as principais estradas e reforçou a sua presença. Enquanto caminham, as pessoas vão gritando “morte ao ditador” e “Curdistão, cemitério de fascistas”.
As cerimónias pelo 40.º dia da morte de alguém são um costume iraniano, mas as de Mahsa Amini revestem-se de particular simbolismo porque foi a morte desta mulher curda, de 22 anos, enquanto estava detida, que deu azo a uma onda generalizada de protestos contra o regime a que alguns chamam já “revolução”.
Ao fim de um mês e meio, as manifestações continuam a verificar-se um pouco por todo o país. Segundo o think tank americano Instituto para o Estudo da Guerra, na terça-feira houve protestos em 13 cidades de 11 províncias, incluindo em vários campi universitários.
A organização curda de direitos humanos Hengaw assegura que estão a decorrer greves em pelo menos sete cidades do Curdistão iraniano. O ex-futebolista Ali Daei, que deteve o recorde mundial de mais golos marcados ao serviço de uma selecção e é uma estrela no Irão, ter-se-á deslocado a Saqqez para participar nos protestos desta quarta-feira, mas a Hengaw diz que foi retido pela polícia.
“A família de Mahsa Amini está sob muita pressão das agências de segurança iranianas para que lance um comunicado sobre a cerimónia dos 40 dias da morte. O seu irmão e outros parentes receberam ameaças de prisão”, disse ainda a Hengaw, citada pelo IranWire.
O governador regional desmentiu que haja estradas cortadas e disse que o ambiente na cidade está calmo. “Os inimigos e os seus meios de comunicação”, disse Esmali Zarei-Kousha à agência de notícias estatal IRNA, “estão a tentar usar o 40.º dia da morte de Mahsa Amini como pretexto para causar novas tensões, mas felizmente a situação na província mantém-se completamente estável”.
O último balanço da organização Iran Human Rights aponta para 234 mortos desde que a onda de protestos começou.
O Governo dos Estados Unidos também aproveitou o 40.º dia após a morte de Amini para anunciar novas sanções económicas dirigidas a responsáveis do regime iraniano, envolvidos na direcção da prisão de Evin, em Teerão, na repressão dos protestos e nas restrições da Internet.
“Vamos continuar a arranjar formas de apoiar o povo do Irão e os seus protestos pacíficos em defesa dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais”, anunciou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, num comunicado.
“Vamos (…) continuar a impor custos a indivíduos e a entidades no Irão envolvidas na repressão brutal do povo iraniano”, afiançou.
Num outro comunicado, o Departamento do Tesouro explicou que os funcionários em causa são membros dos Guardas da Revolução, incluindo o comandante dos seus serviços de espionagem, dirigentes provinciais e responsáveis prisionais.
Com António Saraiva Lima