Covid-19: que sublinhagens da Ómicron vão dominar este Inverno? Devemos ficar preocupados?
O ECDC estima que, entre meados de Novembro e início de Dezembro, as infecções causadas pela BQ.1 ou pela BQ.1.1 representem mais de 50% dos casos na Europa. Mas que sublinhagens do coronavírus são estas?
Chamam-se BQ.1 e BQ.1.1 e são sublinhagens da variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2. Na semana passada, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) deixou um aviso sobre elas: há estimativas que indicam que se devem tornar dominantes entre meados de Novembro e início de Dezembro deste ano. Mais: é provável que contribuam para o aumento de casos de covid-19 neste Outono e Inverno. Mas que sublinhagens são estas? E quão perigosas (ou não) poderão vir a ser?
As novas linhagens são motivo de preocupação?
Aquilo que se espera é que a BQ.1 e a BQ.1.1 contribuam para o aumento de número de casos de infecções com o SARS-CoV-2. “O aumento observado na taxa de crescimento da BQ.1 é, provavelmente, causados sobretudo pela fuga imunitária”, refere o ECDC.
Mas, claro, a extensão do aumento de casos dependerá de vários factores, como a protecção do sistema imunitário contra a infecção influenciada pela cobertura vacinal ou pelo impacto e extensão de vagas de outras linhagens do SARS-CoV-2. Além disso, com base dos dados disponíveis, não há provas de que a BQ.1 esteja associada a infecções mais graves do que as sublinhagens agora em maior circulação.
“A maior preocupação [quanto à BQ.1 e a BQ.1.1] prende-se com a sua capacidade de escapar a alguns anticorpos”, diz ao PÚBLICO Diana Lousa, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa.“Isto pode afectar sobretudo tratamentos com anticorpos monoclonais. As vacinas, muito provavelmente, continuarão a ser eficazes, sobretudo a proteger da doença grave, mas pode haver um aumento do número de casos de covid-19, por isso, é preciso estar alerta.”
A grande recomendação do ECDC para “combater” o aumento de casos é a dose de reforço da vacina. Os indivíduos com maior risco, como idosos, doentes imunocomprometidos ou noutras situações de perigo, devem ser prioritários. Os profissionais de saúde ou de instituições com idosos também devem fazer parte desse grupo prioritário, indica o centro europeu.
Quando foram inicialmente detectadas?
As primeiras sequências das sublinhagens agora debaixo de olho foram detectadas em Julho de 2022 na Nigéria, indica Diana Lousa.
Onde estão a ganhar peso?
No último relatório do ECDC, os países com os valores mais altos das BQ.1 e BQ.1.1 eram: França (19%), Bélgica (9%), Irlanda (7%), Países Baixos (6%) e Itália (5%). Estes dados correspondem à semana entre 3 e 9 de Outubro e incluem apenas países da União Europeia. Fora deste espaço, a Suíça já atingiu os 9% e o Reino 8%.
As autoridades dos Estados Unidos estimam que essas sublinhagens atinjam mais de 16% dos casos de infecções no país, refere-se num artigo da agência Reuters.
O ECDC avisa que estas proporções ainda não são suficientemente altas para se observar já um impacto na situação epidemiológica dos países afectados. Essa subida deverá acontecer quando os valores se aproximarem dos 50%. “O grande efeito no número de casos da BQ.1 chegará nas próximas semanas ou meses, dependendo da proporção da BQ.1 em cada país”, refere-se no relatório.
E em Portugal?
Esta terça-feira, num relatório, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) referiu que há um aumento da frequência relativa de sublinhagens de interesse da Ómicron. Entre elas, estão a BQ.1 e a BQ.1.1. Na semana entre 10 e 16 de Outubro estima-se que a BQ.1 e as suas descendentes representassem 21,4% dos casos em Portugal, de acordo com o mais recente relatório sobre a situação da diversidade genética do coronavírus SARS-CoV-2 no país, divulgado pelo Insa. Só a BQ.1.1 (uma das descendentes) faz parte de 6,7% das infecções dessa semana.
A BA.5 é dominante em Portugal desde a semana de 9 de Maio deste ano.
Quais as características da BQ.1 e da BQ.1.1?
A BQ.1 e a BQ.1.1 são descendentes da linhagem BA.5 da variante Ómicron. Parece confuso, mas é tudo uma questão de evolução do vírus: o SARS-CoV-2 foi-se espalhando pela população, ganhando novas características, o que o levou a ser designado em diferentes variantes. A certa altura, ganhou as características da Ómicron. Esta variante está dividida em diferentes linhagens com um ancestral comum. Essas linhagens partilham mutações genéticas, com algumas diferenças, o que leva à sua distinção. Designadas com o prefixo “BA”, existe a BA.1, a BA.2, a BA.3, a BA.4 ou a BA.5.
“As linhagens BQ.1 e BQ.1.1 são sublinhagens da variante Ómicron BA.5 e incluem mutações adicionais no seu domínio de ligação ao receptor, que parecem conferir-lhes maior capacidade de escapar aos anticorpos”, resume Diana Lousa.
Visto mais ao pormenor (e acrescentando ainda mais letras à evolução do vírus), a BQ.1 é uma sublinhagem da BE.1.1.1, que já por si é uma sublinhagem da BA.5. Por sua vez, a BQ.1 tem descendentes, entre elas, a BQ.1.1.
Em relação à BA.5 (a sua mãe), a BQ.1 e a BQ.1.1 têm mutações adicionais no domínio da ligação ao receptor na proteína da espícula (responsável pela entrada do vírus nas células), indica o ECDC num relatório recente.
Por agora, a BQ.1 e as suas descendentes são consideradas variantes de interesse (ainda não de preocupação) pelo ECDC. O centro europeu estima que, entre meados de Novembro e início de Dezembro, as infecções causadas pela BQ.1 ou pela BQ.1.1 representem mais de 50% dos casos na Europa. Para o início de 2023, prevê-se que o valor seja mais de 80%.