Espanha e França confirmam interesse em construir as interligações eléctricas dos Pirenéus
Acordo entre Portugal, Espanha e França para a construção de um novo gasoduto para o transporte de hidrogénio verde pelo Mediterrâneo não altera os planos dos três países para o reforço das infra-estruturas de electricidade.
O acordo concluído entre Portugal, Espanha e França, para a construção de um “corredor de energia verde” através de um novo gasoduto entre Barcelona e Marselha não implicou nenhuma alteração nos planos já existentes para o reforço das interconexões de electricidade entre os três países, nomeadamente a construção de duas novas ligações nos Pirenéus, confirmou a vice-presidente do Governo espanhol e ministra para a Transição Ecológica, Teresa Ribera.
O acordo político, que foi alcançado pelos três governantes para a substituição do anterior projecto de gasoduto conhecido por MidCat, que foi delineado em 2015, mas caiu num impasse por causa da oposição da França à sua construção, “não afectou as previsões em torno das interconexões eléctricas que estavam pendentes: uma ligação submarina através do golfo da Biscaia, que está em construção, e as duas ligações através dos Pirenéus”, afirmou Teresa Ribera, em declarações aos jornalistas portugueses no final da reunião do Conselho e Energia da União Europeia, esta terça-feira, no Luxemburgo.
O interesse na construção dessas infra-estruturas eléctricas “tão rapidamente quanto possível” foi também confirmado pela ministra da Transição Energética francesa, Agnès Pannier-Runacher, que salientou a importância do acordo anunciado na semana passada em termos da “aceleração” e do “reforço” das ligações entre a plataforma ibérica e a França. “Para nós, é muito importante”, afirmou.
Para Teresa Ribera, esse renovado interesse da França foi precisamente a chave que permitiu ultrapassar o impasse. “A mudança significativa no modo como a França enquadra esta questão foi que, pela primeira vez, ouvimos o Presidente Emmanuel Macron insistir na necessidade de fortalecer e agilizar as interconexões eléctricas”, disse a responsável espanhola — acrescentando que Madrid e Lisboa aproveitaram imediatamente a deixa para promover “os projectos concretos e identificados [no acordo de 2015] para não se perder o horizonte temporal de alcançar os 15% de interconexão eléctrica em 2030”, lembrou.
Tal como a sua congénere espanhola, a governante francesa explicou que o entendimento entre os três países assenta em dois pressupostos. “Um é o reforço das interconexões eléctricas, na óptica de acelerar os projectos existentes, que têm o seu mérito próprio, e outros novos que tenham uma melhor relação qualidade-preço. O outro é o desenvolvimento do projecto do hidrogénio de baixo carbono, com a construção de um gasoduto de Barcelona para Marselha, que permite reforçar a capacidade de transporte num eixo sul-norte e daí para o centro e leste da Europa”, disse Agnès Pannier-Runacher.
“Não há nenhuma alteração” face a 2015
Para o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, as declarações das ministras de Espanha e França eliminam as dúvidas que foram expressas pelo PSD sobre a perda das interligações eléctricas, e desmontam a argumentação do eurodeputado e vice-presidente do partido, Paulo Rangel, que considerou que Portugal “passou de cavalo para burro” ao aceitar a troca do projecto do MidCat pelo novo Corredor de Energia Verde.
“O PSD veio dizer que o acordo prejudicava e não beneficiava Portugal, porque teriam caído duas interligações eléctricas nos Pirenéus. Não caíram. Não há nenhuma alteração relativamente às interligações previstas em 2015”, referiu, após o Conselho da Energia da UE.
O ministro também quis desmentir a explicação avançada por Rangel sobre as razões que terão levado a França a ultrapassar o seu bloqueio ao acordo de 2015.
“Ao contrário do que diz o eurodeputado Paulo Rangel, a França não está a proteger o seu nuclear, evitando que haja mais interligações eléctricas. A França quer mais interligações eléctricas, porque, entre outras coisas, quer produzir hidrogénio de proximidade”, assinalou, insistindo que nas sucessivas conversas com Paris, nunca foi sinalizada qualquer oposição à construção das interligações eléctricas, mas sim dúvidas relativamente ao projecto do gasoduto nos Pirenéus.
Esse projecto ainda está numa fase muito preliminar, e esta terça-feira foi evidente que os três países ainda não acertaram definitivamente agulhas quanto ao seu desenvolvimento. Na última quinta-feira, tanto o primeiro-ministro, António Costa, como o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, afirmavam que o gasoduto entre Barcelona e Marselha teria um “uso dual” para o hidrogénio, mas também para a electricidade.
Nem Teresa Ribera nem Agnès Pannier-Runacher se comprometeram. A ministra espanhola disse que, “para já, estamos a falar de uma interconexão de hidrogénio, mas pode-se explorar a possibilidade de que esse traçado sirva para outro cabo submarino”. A governante francesa recusou especular sobre questões de engenharia: “Há uma task force de especialistas para encontrar as melhores soluções técnicas para alcançar o nosso objectivo político.”