Cesária Évora, a mulher que não gostava de sonhos
Habitar com inteligência o registo canónico do documentário de imagens de arquivo e depoimentos.
Pergunta um entrevistador, já nos tempos em que Cesária Évora era uma artista mundialmente consagrada, pelos “sonhos” que ela ainda tinha; e ela, de forma um bocado seca e sem sombra de ironia, responde só: “não gosto de sonhos, faz-me outra pergunta”. É por momentos assim, possíveis graças ao extenso trabalho de pesquisa e recuperação arquivística, que o filme de Ana Sofia Fonseca se destaca um pouco dentro do género do documentário sobre personalidades: há um mistério em Cesária Évora que o filme pode rondar, analisar e conjecturar, recorrendo a testemunhos e explicações (testemunhos dos que a conheceram bem, explicações de foro médico: a bipolaridade, a queda para estados depressivos) mas que não pode decifrar; e o que era um mistério no princípio continua a ser um mistério no fim. O que guia Cesária Évora é uma curiosidade genuína e amplamente esmiuçada, levada ao ponto do confronto com aquilo que se mantém inacessível a essa curiosidade: o que ia dentro da alma da mulher que cantou e nos deu a conhecer a “alma cabo-verdiana”?
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