Morreu Carlos Melancia, antigo governador de Macau

O antigo político morreu aos 95 anos e o velório tem lugar na Igreja de São João de Deus, em Lisboa.

Fotografia de arquivo datada de 22 de janeiro de 2019, do ex-governador de Macau, Carlos Melancia, que morreu no domingo à noite aos 95 anos. Licenciado em Engenharia, foi governador de Macau de 1987 a 1991 e ministro com as pastas da Indústria e Tecnologia, do Mar e Equipamento Social em vários governos  socialistas. NUNO VEIGA/LUSA
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Carlos Melancia em 2019 NUNO VEIGA/LUSA
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Carlos Lelancia com Rocha Vieira LUSA

Morreu este domingo Carlos Melancia, antigo governador de Macau, aos 95 anos, confirmou ao PÚBLICO fonte próxima da família. O antigo governador morreu no hospital de São José, para onde foi transportado após uma queda. O velório decorre esta segunda-feira a partir das 17h na Igreja de São João de Deus, próximo da Praça de Londres, em Lisboa.

Licenciado em Engenharia, Carlos Melancia foi gestor antes de ocupar diversos cargos na política portuguesa: foi secretário de Estado da Indústria Pesada (1976), ministro da Indústria e Tecnologia (1978), do Equipamento Social e do Mar (1985). Entre 1985 e 1987, foi também deputado pelo PS.

Foi um dos últimos governadores de Macau, onde esteve de 1987 a 1991. Demitiu-se do cargo por se ter visto envolvido no Caso do Fax de Macau, acusado pelo Ministério Público de corrupção passiva, tendo sido ilibado já em 2002. Foi então substituído por Murteira Nabo. Em entrevista ao Hoje Macau, em 2019, Melancia reconhece que este caso “manchou” o seu nome e a sua carreira.

Também envolvido no caso esteve Mário Soares. Em 1989, o semanário O Independente publicou um fax de uma empresa alemã, a Weidleplan, enviado a Carlos Melancia, na qual pedia que lhe fosse devolvido um montante de 50 mil contos doados à empresa Emaudio, um grupo de comunicação social que servia de base de apoio ao PS. Na mesma entrevista ao Hoje Macau, Melancia diz-se injustiçado pela forma como este processo decorreu e defende que “o principal visado” não era ele próprio “mas sim o Presidente da República (Mário Soares), pois havia eleições”.​

Suspeitou-se de que este valor teria sido pago para beneficiar a empresa num concurso para a construção do aeroporto de Macau no qual acabou por não ser escolhida, o que levou à abertura de um inquérito no Ministério Público em 1991, que acusou Melancia de “corrupção passiva”. Em julgamento, não ficou provado que Carlos Melancia tenha sido subornado ou objecto de qualquer promessa de suborno e, em Janeiro de 1994, Melancia foi absolvido.

O Ministério Público recorreu dessa decisão, mas em Outubro de 2002 o Supremo Tribunal de Justiça indeferiu os recursos e encerrou o processo. Nessa altura, Melancia tinha voltado ao mundo empresarial, tendo-se mudado de Lisboa para Castelo de Vide, onde participou em diversos projectos empresariais e esteve ligado a uma fábrica de cortiça e à Ammaia, localizada em Marvão.

Monjardino: “Apanhado num turbilhão"

O presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino, considerou que Carlos Melancia era “um bom homem”, que acabou por ser “apanhado num turbilhão”, cuja origem não estava nele. “Era um bom homem, que foi apanhado num turbilhão”, afirmou Carlos Monjardino, numa referência ao processo em que o antigo governador de Macau foi envolvido, acabando depois por ser ilibado nos tribunais, conhecido como “caso do fax de Macau”.

O presidente da Fundação Oriente fez questão de sublinhar que “sempre disse que aquela história do fax de Macau tinha mais que ver, porventura, com a entourage dele do que com ele, e que ele tinha sido apanhado naquilo”. Para o economista, Carlos Melancia foi apanhado “num turbilhão, cuja origem não estava nele”.

Lamentando o desaparecimento do antigo governador de Macau e ministro de vários governos socialistas, o presidente da Fundação Oriente considerou que Carlos Melancia, durante o tempo em que esteve no território, então sob administração portuguesa, “teve pessoas à volta dele que não deveria ter tido” e foi “muito prejudicado por isso”. “Poderia ter tido um mandato um pouco mais sossegado se fosse um bocadinho mais severo na avaliação das pessoas que apareciam”, acrescentou.

Na opinião de Carlos Monjardino, “a certa altura, devido às fraquezas do governo dele, por razões que não tinham nada que ver com a China, tinham que ver com razões internas, [Carlos Melancia] acabou por se chegar um bocadinho à China. Mas isso também o Rocha Vieira fez”, afirmou, referindo-se ao último governador de Macau, antes da transição da administração do território para a República Popular da China.

(Notícia actualizada às 15h59 com declarações de Carlos Monjardino)