Iniciativa Liberal: três líderes em cinco anos de história

João Cotrim Figueiredo foi eleito líder dos liberais em 2019 e tornou o partido na quarta força política.

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João Cotrim de Figueiredo é o terceiro líder da IL em cinco anos Nuno Ferreira Santos

Nascida de uma associação em 2016, a Iniciativa Liberal (IL) só foi legalizada como partido no ano seguinte. Quase cinco anos depois, o partido já teve três líderes embora o último, João Cotrim de Figueiredo, se tenha tornado o rosto dos liberais. Foi o primeiro (e único) deputado a ser eleito na Assembleia da República em 2019 e, pouco mais de dois anos depois, levou o partido tornar-se na quarta força política.

Depois de legalizado como partido, em Dezembro de 2017, o então líder, Miguel Ferreira da Silva, assumia que a IL não se revia na definição esquerda/direita. Mas veio para ficar e com a ambição de ser Governo, assegurava ao DN em Fevereiro de 2018. Miguel Ferreira da Silva, que actualmente é deputado municipal da IL em Lisboa, demitiu-se em Agosto de 2018 depois de ter sido derrotado numa votação na comissão executiva sobre a página de Facebook da IL, que originalmente tinha sido criada como página de apoio a António Costa como candidato à liderança do PS em 2014.

Foi Carlos Guimarães Pinto, economista e professor universitário, que lhe sucedeu em Outubro de 2018. O actual deputado só estaria no cargo pouco mais de um ano. Anunciou a saída no dia em que João Cotrim Figueiredo confrontou, pela primeira vez, o primeiro-ministro num debate no Parlamento. “A minha missão no partido ficou hoje cumprida e termina aqui”, escreveu na altura na sua página do Facebook.

Actualmente com 61 anos, o antigo presidente do Instituto de Turismo (2013-2016), Cotrim de Figueiredo tinha sido o único deputado eleito da IL, pelo círculo de Lisboa, nas legislativas de Outubro de 2019. Carlos Guimarães Pinto, cabeça de lista no Porto, tinha falhado a eleição.

Dois meses depois, João Cotrim de Figueiredo assumiu a liderança da IL com o propósito de “falar para novos públicos e adoptar novas causas”, apontando a juventude como o seu alvo.

Na moção de estratégia global que apresentou na altura, o gestor destacou como prioridade a luta pela transparência e contra a corrupção bem como a descentralização e a reforma do sistema eleitoral. Mas seria a redução de impostos e a simplificação fiscal, eleitos igualmente como pilar da sua estratégia, que se tornaria a bandeira mais simbólica da IL.

No campo da economia, os liberais são colocados no espectro político do centro-direita ou da direita. Já nos costumes, os liberais são olhados com desconfiança pelos conservadores, que não estavam habituados a ver um partido no seu espaço a votar a favor da legalização da eutanásia, por exemplo.

Apostado em construir o partido mais como um corredor de fundo do que um sprinter, João Cotrim de Figueiredo ficou desconsolado com os resultados das autárquicas de Setembro de 2021: 25 deputados municipais, zero vereadores. Em Lisboa, optou por não fazer parte da coligação liderada pelo PSD/CDS, liderada por Carlos Moedas, e foi penalizado pelo voto útil. O mesmo aconteceu com o Chega, mas o partido de André Ventura conseguiria eleger em todo o país 19 vereadores, ainda que depois assistisse à desistência de cinco.

As legislativas antecipadas de 2022 compensaram: de um deputado, a bancada liberal passou para oito. Foi preciso eleger um líder parlamentar. A escolha recaiu sobre Rodrigo Saraiva, um dos fundadores da Associação Iniciativa Liberal, e antigo dirigente da JSD. O PSD foi, afinal, a casa-mãe de muitos que se desiludiram e aderiram ao novo partido. Talvez por isso mesmo, o ex-líder social-democrata Rui Rio quis travar a fundo a intenção da IL de trocar de lugar no hemiciclo e passar a sentar os seus deputados ao centro, entre o PSD e o PS.

O lema “o liberalismo funciona e faz falta a Portugal”, que foi o mote da IL em campanha, ecoou no Parlamento mas nem sempre com tolerância do primeiro-ministro. Em alguns debates parlamentares, António Costa foi duro com Cotrim de Figueiredo. Ainda recentemente, a propósito da primeira-ministra britânica demissionária, o chefe de Governo associou a política de Liz Truss ao “desastre económico da política liberal”. E aproveitou para condenar uma aproximação de estilo da IL ao “lamaçal” do Chega. Outras vezes, porém, usou a clareza de pensamento da IL como arma de arremesso contra o PSD.

Ao fim de três anos (com uma reeleição há quase um ano), Cotrim de Figueiredo desiste de liderar a IL sem cumprir o mandato em curso. Ao mesmo tempo, endossa o lugar a Rui Rocha. Foi eleito deputado em Janeiro deste ano mas é ainda desconhecido do grande eleitorado. Resta saber se os próximos meses serão de pacificação interna ou de turbulência num partido de curta história.

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