Neelman diz que compra de aviões da TAP passou por “rigoroso e exaustivo escrutínio”

Aquisição dos aviões à Airbus, diz o ex-accionista, “foi uma negociação complexa e morosa” e “reconhecida por todos quantos analisaram o Plano Estratégico para a TAP”.

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Neeleman, que saiu da TAP em 2020, diz ter sido “surpreendido” pela auditoria, que recai sobre o período sob a sua gestão Nuno Ferreira Santos

O ex-accionista da TAP David Neeleman garante que o processo de aquisição de aviões, que teve conhecimento e aval de todos, passou por um rigoroso escrutínio político e técnico, sem que nunca fossem suscitadas dúvidas ou levantadas reservas.

Na semana passada, o ministro das Infra-estruturas afirmou, no Parlamento, que a administração da TAP pediu uma auditoria por suspeitar estar a pagar mais pelos aviões – adquiridos na gestão dos accionistas privados – do que os concorrentes, e que o Governo encaminhou as conclusões para o Ministério Público.

Esta segunda-feira, numa reacção escrita em resposta a um pedido da Lusa, o ex-accionista privado da TAP, através do consórcio Atlantic Gateway, e que levou a cabo a renovação da frota da companhia, diz ter sido “surpreendido” pela auditoria, e conclusões, feita à gestão do seu período.

“Essa declaração, de um alto representante do Estado português sobre um investidor estrangeiro que, a tempo, impediu a falência da companhia bandeira do país, não pode ficar sem uma resposta”, diz.

Neeleman recorda que um dos pontos-chave do Plano Estratégico para a TAP – aprovado por todos os intervenientes no processo de privatização (Estado incluído, refere) – a que o consórcio “se propôs e cumpriu” consistia na renovação da frota, uma das “mais envelhecidas da Europa”, pelo que era “urgente” o seu rejuvenescimento como “uma das condições de sobrevivência e crescimento futuro” da companhia.

“A aquisição dos aviões à Airbus foi uma negociação complexa e morosa, mas que concluímos com sucesso e que permitiu concretizar a necessária e urgente renovação da frota”, foi “reconhecida por todos quantos analisaram o Plano Estratégico para a TAP e que justificou a escolha do nosso consórcio para adquirir a TAP”, afirma David Neeleman.

O consórcio Atlântico Gateway – composto pelos accionistas Neeleman e o empresário português Humberto Pedrosa – venceu a privatização da TAP, levada a cabo pelo Governo do PSD/CDS-PP, operação que foi parcialmente revertida em 2015.

Aviões “a preço de mercado"

“Os novos aviões da TAP foram adquiridos a preço de mercado, como demonstram as várias avaliações independentes apresentadas e confirmadas pelo rigoroso e exaustivo escrutínio político e técnico, típicos e desejáveis quando se trata de um processo de privatização e de um processo de reorganização accionista com o Estado português”, sublinha o ex-accionista.

Neeleman reforça ainda esta ideia com a garantia do interesse de uma grande companhia aérea – cujo nome não menciona, mas que quando saiu da TAP confirmou como sendo a Lufthansa –, na compra da transportadora portuguesa.

Ainda sobre o escrutínio feito, acrescenta que toda a estrutura contratual relativa à compra dos novos aviões entre a Airbus, Atlantic Gateway e TAP, bem como todos os passos necessários, “foram dados a conhecer aos intervenientes e decisores relevantes, em momento anterior à privatização e no momento da reorganização accionista e foram, como tinha de ser, objecto de análise posterior pelo Tribunal de Contas”. “Não foram levantadas quaisquer reservas”, reforça.

O empresário chama a atenção para o facto de em 2016 – quando negociou a reconfiguração accionista com o novo Governo em funções – todo o processo de privatização e Plano Estratégico terem sido reavaliados.

“Nessa altura, o novo Governo reconheceu expressamente que o plano de capitalização estava a ser cumprido e aceitou o Plano Estratégico que tinha sido delineado e já estava a ser implementado, tendo como pilar, mas não só, a compra da nova frota”, refere, dando ainda nota, por outro lado, que o Estado, mesmo no contexto de privatização da companhia, nunca deixou de ser accionista da TAP, primeiro com 31%, depois com 50% e, nos últimos anos, com a totalidade do capital social.

Assim, durante os sete anos de coexistência com os accionistas privados da TAP, “o Estado nunca deixou – como era seu legítimo direito – de nomear múltiplos administradores”. “Em momento algum, ao longo de todos esses anos, um destes administradores ou o presidente do conselho de administração, suscitou qualquer dúvida desta natureza sobre o Plano Estratégico, sobre os referidos contratos ou sobre qualquer acto de gestão dos administradores indicados pela Atlantic Gateway”. Miguel Frasquilho foi o presidente do conselho de administração da TAP nomeado pelo Estado de Junho de 2017 até Junho de 2021.

Neeleman diz, também, que, “apesar de viver nos Estados Unidos e já não acompanhar o dia-a-dia da empresa”, continua “a gostar muito da TAP”, mostrando-se “sempre disponível para prestar todos os esclarecimentos a quem de direito, sempre que se entenda necessário no sentido de clarificar qualquer eventual dúvida”. O empresário diz lamentar que a actual administração da TAP tenha realizado uma auditoria à gestão do seu tempo, sem dirigir “qualquer pergunta ou pedido de esclarecimento” à sua equipa, questões que às quais teriam “respondido com todo o gosto”.

“Por favor, deixem de utilizar a minha pessoa e a TAP como arma de arremesso político e concentrem os vossos esforços em recuperar o enorme investimento que, entretanto, os contribuintes portugueses foram forçados a fazer na companhia”, afirmou o antigo accionista da TAP, num “repto” ao ministro das Infra-estruturas.

“Nos meus diversos projectos na indústria da aviação, sempre cumpri as minhas obrigações e sempre actuei de forma honesta e transparente. Tive muita pena que o actual Governo tivesse optado pela solução de ‘impor’ a minha saída sob ameaça da nacionalização da TAP. Não é verdade que era a única solução e que cabia aos ‘privados’ capitalizar a companhia, como facilmente se conclui olhando para as congéneres europeias da aviação. Na verdade, não foi assim em nenhuma companhia aérea no mundo. Nenhuma empresa estava preparada para resistir à pandemia”, defendeu.