Galp em conversas com a Nigeria LNG sobre possível subida de preços
Nigéria confirmou perturbações num carregamento em Outubro, mas não antecipa problemas em Novembro, diz a petrolífera. Preços do gás usado para abastecer o mercado regulado podem subir em Janeiro.
A Nigeria LNG confirmou à Galp que uma das cargas cujo envio estava previsto para o final do mês de Outubro (com a qual é feito o abastecimento do mercado regulado de gás e da central eléctrica da Tapada do Outeiro) será afectada pela situação de emergência que o país africano atravessa.
“Se é um cancelamento ou atraso, não sabemos”, afirmou o presidente da Galp, Andy Brown, numa conferência com analistas nesta segunda-feira, assegurando que a empresa conseguiu encontrar alternativas a “preços muito razoáveis” para esse volume que estava calendarizado através da compra de gás por gasoduto.
O responsável da Galp pela comercialização internacional de gás, Rodrigo Vilanova, frisou ainda que a operadora nigeriana não antecipa nenhuma restrição para o mês de Novembro (o gás da Nigéria abastece os clientes do mercado regulado em Portugal, mas também boa parte das operações comerciais da Galp).
Andy Brown voltou a mostrar-se contrariado com a decisão do Governo de abrir as portas do regulado a todas as famílias e pequenos negócios (“obrigando-nos a fornecer o regulado a um preço de gás que nós próprios não temos por causa dos contratos de cobertura de preço”) e admitiu que, mesmo para esses clientes, os preços do gás natural poderão subir em Janeiro: “Isso faz parte da discussão que estamos a ter neste momento com a Nigeria LNG.”
“Temos de ver o que acontece no próximo ano. No caso da Nigéria. pode passar por uma subida de preços, o que significa que os preços que passam para a tarifa regulada podem subir”, disse ainda o gestor britânico, na conferência com analistas para apresentação das contas trimestrais (até Setembro, os lucros da Galp subiram 86% para 608 milhões de euros face ao período homólogo).
Apesar de os contratos entre a Galp e a Nigéria serem de longo prazo, com preços muito mais baixos do que aqueles que se verificam actualmente no mercado diário de gás natural, têm cláusulas que permitem revisões em alta. Se isso acontecer, a entidade reguladora, a ERSE, terá de reflectir essa subida nos preços regulados do gás.
Notando que a decisão da passagem para o mercado regulado “foi inesperada” e “contrária a anteriores indicações do Governo e da União Europeia”, o presidente da Galp disse que a empresa “irá reservar a sua posição” sobre o tema para o executivo.
Reconheceu, no entanto, que o impacto financeiro “não foi tão significativo quanto se chegou a temer”. Por um lado, menos de 100 mil clientes passaram ainda para o regulado, por outro, o preço spot também desceu significativamente nas últimas semanas. “O impacto não é significativo, mas a medida não é apropriada”, afirmou.
Segundo as perspectivas de evolução de negócio para 2022 (que foram apresentadas esta segunda-feira, com as contas dos primeiros nove meses do ano), a Galp estima uma perda entre 40 e 50 milhões de euros com as disrupções do abastecimento da Nigéria (pela necessidade de comprar gás em mercado para substituir os volumes em falta).
Esta estimativa não inclui, no entanto, outros impactos decorrentes do aviso de “força maior” emitido pela Nigéria este mês e que podem eventualmente traduzir-se em prejuízos superiores.
Andy Brown declarou aos analistas que a Galp espera melhores resultados no negócio de compra e venda de gás no próximo ano. “Uma lição aprendida”, disse o gestor, é que a empresa tem de garantir “mais flexibilidade” e isso também implica “gerir as quantidades que se vendem [e que depois têm de ser entregues aos clientes, mesmo que o fornecedor falhe]”.
Para o ano, em que também conta começar a receber gás dos Estados Unidos, a Galp “vai estar numa posição diferente, vai fazer dinheiro com o negócio do gás, em vez de perder dinheiro”, assegurou Andy Brown, que já não estará na empresa nessa altura, pois sairá antes do final do ano.