Quatro milhões de euros para projecto liderado pela Universidade de Coimbra para garantir qualidade da água

Com a denominação H2OforAll, o projecto também deverá apontar “normas orientadoras de apoio aos decisores políticos, quer em termos de legislação, quer ao nível de comportamentos a adotar pela população”.

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Actualmente, exigem-se maiores quantidades de desinfectantes para garantir a qualidade da água de consumo pedro cunha

A Universidade de Coimbra (UC) vai liderar um projecto internacional que conta com um financiamento de quatro milhões de euros para desenvolver tecnologias inovadoras que garantam a qualidade da água de consumo.

Em comunicado de imprensa, a UC explicou que o objectivo é “desenvolver um conjunto de tecnologias inovadoras que actuem a nível da prevenção, monitorização e descontaminação da água de consumo, garantindo a máxima qualidade da água” que as pessoas bebem.

Com a denominação H2OforAll, o projecto também deverá apontar “normas orientadoras de apoio aos decisores políticos, quer em termos de legislação, quer ao nível de comportamentos a adoptar pela população”.

“Para alcançar os objectivos propostos, o projecto, liderado por Rui Martins, do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), conta com quatro milhões de euros atribuídos pela União Europeia (UE) no âmbito do programa Horizonte Europa.”

O H2OforAll arranca no dia 1 de Novembro e tem a duração de três anos, sendo que, além de Portugal, envolve investigadores e empresas da Alemanha, Bélgica, Chipre, Espanha, Israel, Países Baixos, Polónia, Reino Unido e Suécia.

“Genericamente, as várias equipas do projecto vão desenvolver tecnologias vanguardistas de monitorização da qualidade da água de consumo doméstico, de protecção das fontes de água potável e de redução da quantidade de produtos de desinfecção nestas águas”.

Segurança máxima da água para consumo

Referindo que os fenómenos severos provocados pelas alterações climáticas - como a seca extrema - e a contaminação provocada pela acção humana contribuem para agravar a deterioração das fontes onde é captada a água, a UC lembrou que se exigem maiores quantidades de desinfectantes para garantir a qualidade da água de consumo, pelo que se torna urgente desenvolver novos métodos que garantam, “no presente e no futuro, a segurança máxima da água de consumo”.

“Ao ser necessário utilizar cada vez mais cloro na desinfecção de água potável, essencial para impedir doenças, uma das consequências é a geração dos chamados subprodutos de desinfecção (DBPs, na sigla inglesa), produtos químicos produzidos em resultado da reacção entre os desinfectantes e os compostos orgânicos presentes na água de origem”, apontou Rui Martins, citado na nota de imprensa.

O cientista salientou ainda que esses subprodutos podem ser nocivos para a saúde humana e para os ecossistemas, se não forem identificados e controlados.

Deste modo, um dos objectivos do projecto é justamente “prevenir a formação desses DBPs, utilizando processos de pré-tratamento da água que consigam remover compostos que lá se encontrem e que são promotores desses subprodutos de desinfecção”.

“Por outro lado, pretendemos desenvolver estratégias alternativas de desinfecção inovadoras que não contenham químicos, utilizando, por exemplo, a radiação ultravioleta, porque ao retirar o cloro ou diminuir a quantidade de cloro a introduzir nas águas, reduzimos a possibilidade de formação de DBPs”.

Sensores no circuito

Ao nível da monitorização, o H2OforAll propõe desenvolver soluções tecnológicas que permitam controlar e acompanhar todo o percurso da água, desde a captação até à distribuição.

No fundo, explicou o líder do consórcio, propõe-se “encontrar mecanismos para monitorizar o que se passa, a cada momento, na rede”.

“Para tal, vamos desenvolver sensores adequados para a monitorização da qualidade da água ao longo de todo o circuito e, a partir dos dados recolhidos em vários países, criar modelos capazes de prever o comportamento da água e dos DBPs ao longo das cadeias de distribuição, para, caso seja necessário, aplicar medidas correctivas atempadamente”.

Segundo a informação, o projecto inclui estudos de toxicidade dos subprodutos de desinfecção, essenciais para avaliar o impacto dos DBPs, quer a nível da saúde humana quer no equilíbrio dos ecossistemas.

Todas as soluções tecnológicas desenvolvidas no âmbito do projecto vão ser testadas numa instalação piloto criada pela empresa “Adventech” e, posteriormente, será realizado um caso de estudo em ambiente real na empresa municipal Águas de Coimbra, que é parceira no projecto.

A escolha justifica-se pela “reconhecida qualidade da água da Águas de Coimbra”, o que coloca “grandes desafios, sobretudo ao nível de validação”, assinalou Rui Martins, referindo que as tecnologias que sejam desenvolvidas “terão de ser altamente sensíveis”.

No final do projecto, o consórcio vai ainda redigir um conjunto de recomendações técnicas de prevenção, para evitar a contaminação das fontes da água de consumo, e orientações que possam contribuir para a alteração de legislação europeia nesta matéria e de comportamentos a adoptar pela população.

De acordo com a UC, os investigadores acreditam que o H2OforAll terá um grande impacto, permitindo remediar os problemas ambientais actuais e futuros, que vão ser cada vez mais graves pela escassez de água potável e devido a fenómenos climáticos extremos”.

Na UC, o projecto envolve quatro centros de investigação: Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), Centro de Química de Coimbra (CQC), Centre for Mechanical Engineering, Materials and Processes (CEMMPRE) e Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra (INESC Coimbra), numa plataforma de cooperação entre os investigadores Rui Martins, Luísa Durães, João Gomes, Igor Reva, Artur Valente, Paula Morais e Nuno Simões.