Países do Mediterrâneo querem unir a sua voz na Cimeira do Clima

Criar um grupo de Estados com interesses comuns, como o dos Estados-ilhas, é o objectivo da iniciativa, que resultará na presença de um pavilhão da União para o Mediterrâneo na COP27, no Egipto.

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O leito do rio Po, em Itália, completamente seco na zona de Boretto, em Junho: a seca afecta as duas margens do Mediterrâneo Guglielmo Mangiapane/REUTERS

O Mediterrâneo está divido em três regiões diferentes, no que diz respeito às negociações na Cimeira das Nações Unidas sobre o Clima. Mas, na próxima cimeira (COP27), que vai decorrer em Sharm el-Sheik, no Egipto, entre 6 e 18 de Novembro, os Estados-membros da União para o Mediterrâneo querem unir-se, para apresentar uma frente comum e defender os seus interesses.

“Não podemos negociar como um bloco nem queremos passar a fazê-lo. Mas veja-se o sucesso que tiveram os Estados-ilha, de diferentes pontos do globo, das Caraíbas ou do Pacífico, por exemplo, que se juntaram num grupo informal chamado AOSIS [sigla em inglês de Aliança de Pequenos Estados-ilha] para fazer avançar a sua agenda de forma eficaz”, disse Grammenos Mastrojeni, vice-secretário-geral da União para o Mediterrâneo, numa conferência de imprensa online para apresentar a iniciativa.

“Se temos a meta de não querermos ter um aquecimento superior a 1,5 graus devemo-los em grande parte a estes países”, concluiu o diplomata italiano Mastrojeni. “Podemos negociar sem estar nas negociações”, defendeu.

Temos problemas e políticas comuns e estratégias de adaptação acordadas, produção de conhecimento científico comum na bacia do Mediterrâneo. Queremos dar conhecimento disso às partes que estão a negociar”, acrescentou Tatjana Hema, coordenadora da unidade para o Plano de Acção do Mediterrâneo do Programa de Ambiente das Nações Unidas (UNEP/MAP). Para o fazer, a União para o Mediterrâneo participará na COP27 com um pavilhão próprio - a primeira vez que o faz numa cimeira do clima.

Um estudo de 2019 promovido pela União para o Mediterrâneo concluía que a temperatura estava a subir 20% mais rápido naquela região do que noutras zonas do planeta. Tinha subido 1,5 graus Celsius em relação ao período pré-industrial, entre 1880 e 1899. Eram mais 0,4 graus do que a média global (1,1 graus Celsius).

“O Mediterrâneo pode estar dividido em três regiões para as negociações, mas pela primeira vez o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas [IPCC] inclui num relatório o Mediterrâneo como uma região única”, disse Fatima Driouech, cientista que faz parte do IPCC e da organização Especialistas em Clima e Alterações Ambientais do Mediterrâneo (MeDEEC). “Isto demonstra como nas margens Norte e Sul do Mediterrâneo há riscos climáticos, como a seca, cheias e outros factores, que merecem uma abordagem conjunta”, defendeu. A seca que está a afectar Portugal, Espanha e Itália, por exemplo, está a ser vivida igualmente em Marrocos, exemplificou.