PSD diz que Portugal “passou de cavalo para burro” na energia, Governo contrapõe com “vitória”

Paulo Rangel não poupa primeiro-ministro sobre acordo das interconexões ibéricas com Espanha e França. Ministro do Ambiente responde que novo gasoduto “valoriza Sines”.

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O primeiro-ministro, António Costa, no último Conselho Europeu em Bruxelas REUTERS/Yves Herman

O PSD reagiu neste sábado num tom muito crítico ao acordo anunciado quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, para a criação de um “corredor de energia verde” que irá unir a Península Ibérica a França e, a partir daqui, aos restantes países da União Europeia.

O vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, discorda desta solução e diz que ela põe em causa os “compromissos internacionais, que existiam firmes e calendarizados desde 2014, para a construção de duas interligações eléctricas nos Pirenéus”.

“Só se manteve o Golfo da Biscaia, mas, para Portugal, aquelas duas interligações eléctricas eram muito mais importantes que qualquer ligação de gás, e mais ainda que uma troca de gasodutos que secundariza o terminal de Sines. O transporte de gás importado, podendo ser útil, é muito menos interessante para Portugal do que para Espanha. E, agora, o que tinha sido conseguido numa negociação difícil em 2014 foi deitado fora”, explicou o eurodeputado, numa declaração política na sede nacional do PSD, em Lisboa.

Falando na qualidade de vice-presidente do partido, Rangel acusou o primeiro-ministro de ter aceitado um acordo que “prejudica o interesse nacional” e declarou que, “durante sete anos, o Governo socialista de António Costa fez muito pouco e nada conseguiu quanto às interligações eléctricas”. “Quando o primeiro-ministro tentou explicar o novo acordo, percebemos que o acordo anunciado entre o Presidente francês e os primeiros-ministros espanhol e português prejudica o interesse nacional, é um mau acordo, e António Costa nunca o deveria ter aceitado.”

Em causa está o acordo entre Portugal, Espanha e França alcançado na quinta-feira, em Bruxelas, durante uma reunião dos líderes dos governos dos três países, que prevê avançar com um “corredor de energia verde” que ligará Portugal a Espanha através de um novo gasoduto entre Celorico da Beira e Zamora e que chegará a França por mar numa nova ligação submarina entre Barcelona e Marselha, em detrimento de uma travessia pelos Pirenéus (o chamado MidCat), que sempre teve a oposição de Emmanuel Macron.

Segundo o dirigente nacional do PSD, “este acordo, sem prazo e sem preço, não serve o interesse europeu e não serve o interesse nacional. A poderosa indústria nuclear francesa ganhou; as energias renováveis portuguesas perderam”. E concluiu: “Trocámos o valor das nossas renováveis e o potencial do porto de Sines por um prato de lentilhas. Dito de um modo popular, passámos de cavalo para burro.”

Horas depois, o ministro do Ambiente e das Alterações Climáticas contrariava as afirmações de Paulo Rangel. “Nós não temos outras alternativas para aproveitar o hidrogénio, portanto é um absurdo aquela declaração do eurodeputado Paulo Rangel quando quer colocar uma dicotomia entre o gasoduto e Sines. O gasoduto valoriza Sines e valoriza a possibilidade de nós produzirmos gás renovável e aproveitarmos o gasoduto para a exportação, ou podemos utilizar até Sines para a exportação de hidrogénio por barco”, afirmou, em declarações à SIC-Notícias.

“O país tem de ter várias alternativas como os países desenvolvidos têm. O grande problema do nosso país é ter poucas alternativas porque não tem interligações. Este momento foi uma grande vitória para o país porque nós conseguimos reforçar as nossas interligações e, ao reforçá-las, aumentamos as probabilidades de o nosso país ter alternativas, quer na exportação, quer na importação. Isto é determinante”, acrescentou Duarte Cordeiro.

Ainda segundo o ministro do Ambiente, “Portugal tem uma enorme dependência do porto de Sines – praticamente todo o gás que recebemos é pelo porto de Sines – e o facto de reforçarmos as nossas interligações permite-nos, nomeadamente, repartir um pouco aquilo que são as origens de eventuais fornecimentos de gás a Portugal”.

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