Senador republicano obrigado a depor sobre plano para anular vitória de Biden na Georgia

Poucos dias depois da eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos, Lindsey Graham telefonou ao responsável pela certificação dos resultados no estado da Georgia, onde Joe Biden teve mais votos do que Donald Trump. Agora, vai ter de se explicar perante um grande júri numa investigação criminal.

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Lindsey Graham é um dos mais destacados apoiantes de Donald Trump no Senado dos EUA Reuters/SIPHIWE SIBEKO

O senador norte-americano Lindsey Graham, do Partido Republicano, vai ter de prestar declarações perante um grande júri, sob juramento, sobre o seu papel numa campanha de pressão liderada por Donald Trump, no estado da Georgia, com vista à mudança dos resultados da eleição presidencial de 2020.

A decisão foi tomada por um colectivo de três juízes do Tribunal da Relação do 11.º Circuito dos EUA, que avalia recursos nos estados da Georgia, Florida e Alabama. E vem confirmar uma decisão anterior de um tribunal da Georgia, podendo ser contestada perante os 12 juízes do tribunal, ou no Supremo Tribunal dos EUA.

Em Novembro de 2020, Graham telefonou a um responsável pela certificação dos resultados na Georgia, poucos dias depois da eleição, para saber se seria possível anular milhares de votos por correspondência em alguns condados do estado.

Na eleição de 2020, marcada pela eclosão da pandemia de covid-19, a votação por correspondência foi o método preferencial de milhões de eleitores do Partido Democrata em vários estados, ao contrário da maioria dos eleitores do Partido Republicano, que participaram em maior número nas votações presenciais.

O destinatário do telefonema de Graham foi o secretário de estado da Georgia, o republicano Brad Raffensperger. Em declarações ao Washington Post, ainda em Novembro de 2020, Raffensperger disse que o senador “parecia determinado a prosseguir esse caminho”, referindo-se à anulação de votos por correspondência sem qualquer justificação legal.

Na altura, Graham classificou como “ridícula” a suspeita de que pressionou Raffensperger a alterar os resultados, e disse que telefonou ao secretário de estado da Georgia na qualidade de líder da Comissão de Assuntos Judiciários do Senado, no decorrer de uma investigação sobre as queixas de fraude eleitoral promovidas por Trump.

No início de Janeiro de 2021, Raffensperger foi alvo de uma nova tentativa de pressão, por parte do próprio ex-Presidente dos EUA, que lhe pediu que “encontrasse” pelo menos 11.780 votos a seu favor — mais um do que a diferença que separou Biden de Trump na Georgia.

Intimado pela procuradora do condado de Fulton, Fani T. Willis, a comparecer perante um grande júri no âmbito de uma investigação criminal às pressões sobre o secretário de estado da Georgia, o senador Graham contestou a ordem nos tribunais. O seu argumento é que as conversas com Raffensperger estão protegidas por uma cláusula que regula as actividades dos membros do Congresso dos EUA, segundo a qual os congressistas e os senadores não podem ser intimados a depor em tribunal sobre o seu trabalho legislativo.

Em Setembro, uma juíza de um tribunal da Georgia decidiu que Graham tem mesmo de comparecer perante o grande júri, e foi essa decisão que o painel de três juízes do Tribunal da Relação do 11.º Circuito (dois nomeados por Trump e um nomeado por Bill Clinton) confirmou na quinta-feira.

À luz das decisões dos dois tribunais, os procuradores estão proibidos de fazer perguntas a Graham sobre a investigação que o senador diz ter conduzido após a eleição presidencial, mas podem questioná-lo sobre a sua coordenação com a campanha de Trump durante o mesmo período; as suas declarações públicas sobre as queixas de fraude; e sobre a suspeita de que exerceu pressão sobre o secretário de estado da Georgia para reverter o resultado da eleição presidencial.

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