Há falta de água em Portugal? Não! Nem agora nem no futuro…

A água está mal distribuída, no tempo e no espaço, o que se resolve com a “auto-estrada da água do interior”, um sistema de transferência de caudais (Douro-Tejo-Guadiana-Algarve), constituído por estações de bombagem e canais ao longo do interior do país, apoiado nalgumas barragens, com custos bastante acessíveis.

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Não existem são barragens de armazenamento suficientes, dizem os autores Paulo Pimenta

Muito se tem falado, nos últimos tempos, sobre a água que vem de Espanha, nos diversos rios que partilhamos. Surge a notícia de os agricultores espanhóis da região do Douro não quererem que a água lá armazenada, em barragens que eles ajudaram a pagar, seja agora derivada para cá, como já tinha surgido, há tempos, relativamente ao Tejo.

Não vale a pena criticar Espanha, falar do acordo de Albufeira que regulamenta os caudais mínimos dos rios internacionais (que os espanhóis até cumprem, ao contrário dos portugueses …). Espanha está, e estará sempre, a montante de Portugal, e sempre que a água escassear, o que irá acontecer cada vez com maior frequência, a situação será esta, cada um a defender os seus interesses.

A solução passa por Portugal deixar de se queixar e fazer o que Espanha já fez há muitos anos, instalar sistemas hidráulicos que permitam por um lado, armazenar água e, por outro, distribuí-la racionalmente, transferindo-a de onde ela está em excesso, a Norte, para onde falta, a Sul. Ou seja, deixar o papel de cigarra, que nada faz e se queixa quando não tem de comer, e assumir o papel de formiga, que acumula comida de Inverno (neste caso, água!) para a distribuir de Verão.

De facto, o país dispõe, em média, sem contar com as afluências de Espanha, de 40.000 milhões de m3/ano de águas superficiais e subterrâneas (32.000 + 8000), quando os seus consumos hídricos globais rondam os 4500 milhões de m3/ano, 11% das disponibilidades (números do Plano Nacional da Água 2015, documento da APA, Agencia Portuguesa do Ambiente).

A longo prazo, e fruto das alterações climáticas, as disponibilidades hídricas nacionais poderão reduzir-se para 28.000 milhões de m3/ano, e os consumos subirem para 6000 milhões de m3/ano, mesmo assim só 21% das disponibilidades (idem).

O que não existem são barragens de armazenamento suficientes, que guardem a água nos Invernos e nos anos húmidos, para a distribuir no Verão e nos anos secos, nem sistemas globais de transferência de caudais (Douro-Tejo-Guadiana-Algarve), do Norte, rico em água mas com baixos consumos, para o Sul, onde ela falta mas onde o potencial agrícola é grande!

E também infra-estruturas regionais de distribuição de água, nomeadamente na Terra Quente Transmontana, no Vale do Tejo e Oeste e na expansão do sistema do Alqueva a todo o Alentejo.

Como está, cerca de 90% da água nacional segue para o mar, o que é bom para as sardinhas, mas causa grandes problemas à agricultura, e não só. Se em vez de 90% forem 80%, as sardinhas não dão por nada, e o problema nacional da falta de água fica resolvido.

É tudo uma questão de planeamento e boa gestão, com custos relativamente reduzidos, inferiores a 1.000.000.000 euros (mil milhões de euros) para o Sistema de Transferência Douro-Tejo-Guadiana-Algarve, 1/5 do que se gastou no BES/GES ou na Caixa Geral de Depósitos, sendo que o problema da água em Portugal fica resolvido pelos próximos 100 anos.

Bem sabemos que soluções concretas para problemas concretos é coisa de engenheiros, uns “desmancha-prazeres”, e que isto é aborrecido para as entidades que se alimentam destes alarmismos permanentes, mas o país com certeza que agradece … e, se calhar, as sardinhas também!

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