Quarenta e cinco dias depois, Truss renuncia ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido

Truss demite-se poucas semanas depois de ter sido escolhida pelos militantes para chefiar o Governo. Partido Conservador quer eleger um novo líder em apenas uma semana, mas a oposição exige eleições antecipadas. Boris Johnson estará a ponderar concorrer.

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Liz Truss demite-se: "Dada esta situação, não posso cumprir o mandato" Reuters, Joana Bourgard

Elizabeth Truss apresentou, esta quinta-feira, a demissão do cargo de primeira-ministra do Reino Unido, apenas 45 dias depois de sido eleita líder do Partido Conservador e de ter sucedido a Boris Johnson na chefia do Governo e 24 horas depois de ter garantido ao Parlamento que era uma “lutadora” e não uma “desistente”. Será a mais curta governação de um primeiro-ministro britânico desde os 119 dias em que George Canning governou, até morrer, em 1827.

O anúncio foi feito ao início da tarde, pela própria Truss, numa curta declaração em frente ao número 10 de Downing Street, em Londres, na qual assumiu que tinha deixado de poder “cumprir o mandato” para o qual foi eleita durante o Verão, pelos militantes conservadores.

“Assumi este cargo num momento de grande instabilidade económica e internacional. Havia uma grande preocupação das famílias e das empresas sobre como pagar as contas. A guerra ilegal de Putin contra a Ucrânia ameaça a segurança de todo o nosso continente, e o nosso país ficou estagnado, por muito tempo, pelo baixo crescimento económico. Fui eleita pelo Partido Conservador para mudar isto”, começou por dizer.

“Cumprimos as propostas da despesa energética e reduzimos a Segurança Social. E estabelecemos uma visão de futuro para uma economia de alto crescimento, com baixos impostos, aproveitando a vantagem das liberdades do ‘Brexit’. Reconheço, porém, que, dada a actual situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador”, afirmou.

Liz Truss informou que notificou o rei Carlos III sobre a sua renúncia ao cargo de líder do Partido Conservador e do Governo, e deu conta dos próximos passos para a escolha do seu sucessor.

O plano discutido esta manhã com Graham Brady – presidente do grupo parlamentar conservador 1922 Committee – pressupõe uma nova corrida à liderança dos tories “a ser concluída dentro uma semana”.

“Dessa forma garantimos que nos mantemos no caminho para cumprir os nossos planos fiscais e para mantermos a estabilidade e a segurança nacional do nosso país”, explicou Truss.

Resta saber se só os 357 deputados do Partido Conservador é que vão participar no processo, ou se, como é costume, a escolha final entre os dois candidatos mais votados vai caber aos militantes. A imprensa britânica sugere que os militantes podem simplesmente ser chamados a validar o candidato escolhido pelos deputados.

Certo é que as casas de apostas britânicas já estão a dar como favorito à sucessão de Truss o candidato que a própria derrotou na votação entre os militantes: Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças.

Isto, claro, se Boris Johnson (sim, Boris Johnson) não avançar, um cenário que, segundo o Times e o Daily Telegraph, está a ser seriamente ponderado pelo próprio. O antigo primeiro-ministro apresentou a demissão em Julho, depois de mais de 50 membros do seu Governo se terem demitido, criticando a forma como geriu vários escândalos, como o das festas em Downing Street durante a pandemia ou o que envolveu a omissão das denúncias de assédio sexual contra um ex-líder parlamentar promovido.

De acordo com o Times, se Johnson avançar mesmo, explicará que se trata de “uma questão de interesse nacional”.

Recuo e demissões

O anúncio de demissão de Truss deve-se, em grande medida, ao abandono de praticamente todas as suas promessas económicas, feitas durante a campanha interna dos tories, e assentes, sobretudo, no corte de impostos, por causa da reacção negativa dos mercados e de críticas abertas de vários deputados do partido.

Depois de ter mudado de ministro das Finanças na passada sexta-feira – Jeremy Hunt entrou para o lugar de Kwasi Kwarteng –, Truss nomeou Grant Shapps ministro do Interior, para o lugar de Suella Braverman, demissionária, que renunciou ao cargo na quarta-feira.

Os relatos de “cenas caóticas” na votação de uma moção na quarta-feira à noite, no Parlamento, também precipitaram a sua queda, depois de mais de 16 deputados, vários ex-ministros e outras figuras do partido terem defendido publicamente a sua demissão esta quinta-feira.

Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, já reagiu ao anúncio da demissão de Truss, exigindo a convocatória de eleições legislativas antecipadas – as próximas só estão previstas para 2024; o Partido Conservador venceu as anteriores, em 2019, com o melhor resultado desde 1979.

“O Partido Conservador demonstrou que já não tem um mandato para governar. Ao fim de 12 anos de falhanço tory, a população britânica merece muito melhor do que que a porta giratória do caos”, denunciou Starmer, num comunicado partilhado nas redes sociais. “Precisamos de uma eleição geral. Agora.”

Partido Nacional Escocês, Liberais-Democratas e Partido Verde também exigem eleições antecipadas.

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