Mercados britânicos aplaudem demissão de Liz Truss
Depois do tumulto que o plano económico de Liz Truss gerou nos mercados financeiros, os investidores celebram a sua demissão. A libra e as bolsas estão a valorizar, enquanto os juros da dívida soberana estão a cair.
A demissão de Elizabeth Truss do cargo de primeira-ministra do Reino Unido, apenas 45 dias depois de ter sucedido a Boris Johnson na chefia do Governo britânico, pode vir abrir um novo capítulo de instabilidade política naquele país, mas, nos mercados financeiros, o ambiente é, para já, de celebração, com os principais índices accionistas e a libra estão a negociar em alta e os juros da dívida a caírem.
A reacção dos investidores tem sido um foco de atenção desde o início da actuação do curto Governo de Liz Truss. Foi ainda no final de Setembro que a libra esterlina derrapou para mínimos históricos, aproximando-se da paridade com o dólar, depois de o então ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, ter anunciado um plano governamental para mitigar o impacto da inflação e incentivar o crescimento económico, que passava, sobretudo, por reduções fiscais significativas (a rondar os 45 mil milhões de libras, ou mais de 50 mil milhões de euros) e por incentivos ao investimento.
A justificar aquele movimento nos mercados financeiros estavam os receios de que o novo plano do Governo britânico contribuísse para levar a inflação para níveis ainda mais elevados e para agravar a dívida do país, já que a execução do plano implicaria um aumento significativo do endividamento do Reino Unido junto dos mercados, numa altura em que os juros da dívida já estão em níveis historicamente elevados.
Perante esta onda de críticas ao pacote de cortes fiscais, Liz Truss não demorou a recuar na intenção de implementar algumas das medidas anunciadas, nomeadamente a de redução do imposto sobre o rendimento aos contribuintes que ganham mais.
Este primeiro recuo não bastou e, dias depois, a queda da libra e a subida das de juro da dívida soberana britânica eram de tal forma acentuadas que o Banco de Inglaterra se viu forçado a lançar estímulos monetários destinados a estabilizar os mercados. Liz Truss acabou, então, por demitir Kwasi Kwarteng, substituindo-o por Jeremy Hunt, para, logo de seguida, anunciar um retrocesso quase total no plano económico que havia sido apresentado semanas antes, numa tentativa de acalmar os mercados.
O percurso de Liz Truss no Governo britânico termina agora, com a demissão anunciada esta quinta-feira, e, desta vez, a reacção dos mercados é positiva.
Na sessão desta quinta-feira, a libra chegou a valorizar perto de 1% em relação à moeda norte-americana, a cotar na casa dos 1,13 dólares, acabando depois por se fixar na casa dos 1,12 dólares. Já os juros da dívida britânica a dez anos chegaram a cair para a casa dos 3,86%, afastando-se da fasquia dos 4%, um nível que tem sido ultrapassado por várias vezes nas últimas semanas, voltando depois a subir para cerca de 3,9%. O mesmo acontece nas bolsas, com o FTSE 100, índice accionista britânico de referência, a fechar com uma subida próxima de 0,3%.
Agora, os investidores esperam por um sucessor no cargo de primeiro-ministro que seja capaz de dar uma resposta mais satisfatória à crise económica. “Os investidores estão a celebrar a demissão de Truss e o potencial de um líder mais experiente do ponto de vista económico e mais amigo dos mercados”, comenta uma analista, citada pela Reuters. “Quem quer que venha será visto, provavelmente, como mais credível do que Liz Truss. Os mercados poderão gostar de ver alguém como Rishi Sunak [membro do Partido Conservador que Liz Truss venceu na sucessão a Boris Johnson]”, comenta outro analista.
Notícia actualizada com as cotações de fecho da libra, juros da dívida soberana do Reino Unido e FTSE 100.