A magnífica Colômbia sci-fi de Lucrecia Dalt
Uma história de ficção científica cruza-se com sons de boleros e de salsas que a artista colombiana transformou pensando em Scott Walker, Tom Waits e em discos de dub. ¡Ay! é puro génio de uma experimentalista que agora se chegou às canções.
Como se diz em terras de Espanha, àquilo que Lucrecia Dalt aprontou em ¡Ay! chama-se “misturar pêras com maçãs”. Misturar coisas incomparáveis e incompatíveis, e que, segundo a cultura de rua, devem ser mantidas a uma distância de segurança. É curioso, no entanto que a música colombiana se equivoque ao citar o dito popular e substitua maçãs por batatas. Porque, até na subversão que se propõe, há uma originalidade que ultrapassa qualquer intenção meramente calculista. Lucrecia Dalt fala de frutas com o Ípsilon quando equipara o seu trabalho artístico em ¡Ay! a esta ideia de elementos pouco atreitos ao casamento entre si, por misturar e colocar ao mesmo nível conceitos filosóficos e esotéricos, por atirar para uma mesma canção ficção científica e mitologia maiorquinas, por resgatar o ambiente de boleros clássicos com ferramentas de produção contemporâneas. E porque não acredita em fronteiras entre alta e baixa cultura, entre referências que devam envergonhar ou encher de soberba quem as reclama para a sua prática.
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