Chega pediu adiamento da eutanásia pensando que será para depois do OE2023. Santos Silva aceitará textos finais para votar com o Orçamento
Texto final sobre legalização da morte medicamente assistida está “preso” na Comissão de Assuntos Constitucionais mais uma semana. Votação deverá acontecer no mesmo dia do OE2023. PS também quer levar o dossier da tutela da Europol e Interpol à votação.
Apesar do pedido do Chega para adiar a votação do texto final na Comissão de Assuntos Constitucionais desta quarta-feira, a legalização da eutanásia poderá mesmo ser aprovada pelo Parlamento na próxima semana: depende de Augusto Santos Silva aceitar incluir o assunto nas votações de dia 27, em simultâneo com a proposta de lei do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) e o gabinete do presidente confirmou ao PÚBLICO que este aceitará os textos finais que lhe forem remetidos até dia 26.
Fernando Negrão, presidente da comissão, disse ao PÚBLICO que tenciona integrar o assunto da eutanásia na reunião da próxima semana, antes da discussão do OE2023, e enviar de imediato o texto final para Santos Silva.
Ao PÚBLICO, o deputado e líder parlamentar do Chega justificou o pedido de adiamento da votação que estava prevista para hoje com a intenção de “receber os pareceres de diversas entidades pedidas pelo Chega e de outras que pediram para ser ouvidas presencialmente” pelo grupo de trabalho nas últimas semanas, mas que a coordenação rejeitou alegando haver necessidade de fechar os prazos para receber contributos.
Pedro Pinto espera que o tema não seja colocado na agenda da comissão da próxima semana e está a contar que seja adiado para o final de Novembro. “Não é normal, quando estamos a discutir o Orçamento do Estado, que se faça uma comissão extraordinária para se discutir outros assuntos”, defendeu, lembrando que o ministro das Finanças será ouvido já nesta sexta-feira, dia 21, sobre o OE2023. Ou seja, o Chega gostaria mesmo de atirar o assunto da morte medicamente assistida para as semanas antes do Natal.
Porém, o Parlamento só suspende os trabalhos das comissões durante o período de discussão do Orçamento na especialidade, que se inicia no final do próximo dia 27, quando a proposta de lei do Governo for aprovada na generalidade -, com excepção dos trabalhos que se prendam com o próprio orçamento ou em casos inadiáveis (como as deslocações do Presidente da República ao estrangeiro) ou ainda sob autorização de Santos Silva.
Com o pedido de adiamento potestativo (obrigatório) usado hoje, o Chega já não poderá recorrer ao mesmo expediente na próxima semana. Para o assunto ser adiado novamente, teria que ser outro partido a fazer tal pedido e não é provável que o PSD o faça.
PS tem pressa no dossier da Europol
Para além da questão da eutanásia, o PS também pretende encerrar rapidamente o dossier legislativo sobre a hierarquia dos gabinetes da Europol e Interpol e quer mesmo votar o texto final da próxima semana apesar do pedido de adiamento do PSD (da passada semana) e do requerimento aprovado nesta manhã na Comissão de Assuntos Constitucionais para que a ministra da Justiça envie ao Parlamento os documentos que justificam a mudança da gestão dos gabinetes.
O PSD quer ver o plano de acção que o Governo português enviou à Comissão Europeia e ao Conselho da União Europeia e a acta das reuniões para verificar os argumentos do executivo. O partido alegou que são informações fundamentais para poder votar a nova lei. O PS, apesar da pressa, votou o requerimento favoravelmente, mesmo sabendo que a informação poderá já não chegar a tempo. E a Iniciativa Liberal veio ajudar o PSD pedindo o adiamento da votação que estava marcada para hoje.
O assunto motivou uma discussão tensa entre o presidente da comissão e o socialista Pedro Delgado Alves, que exigiu que o assunto seja mesmo votado na próxima semana. O social-democrata Fernando Negrão defendeu que, enquanto presidente da comissão, é sua competência definir a convocação de reuniões e a respectiva ordem de trabalhos, e criticou a postura de Delgado Alves dizendo que este não é o presidente. E o socialista socorreu-se do regimento para replicar que os deputados podem convocar uma reunião da comissão se assim o entenderem e prometeu que é isso que o seu grupo parlamentar vai fazer.