És um íman para os mosquitos? É por causa do teu cheiro
Um novo estudo da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, concluiu que algumas pessoas que têm níveis mais elevados de ácidos carboxílicos na pele atraem mais mosquitos.
Algumas pessoas são ímanes para mosquitos, emitindo uma combinação tentadora de químicos que convidam os malditos insectos a jantarem sobre elas.
Investigadores da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, descobriram que pessoas que têm níveis mais elevados de certos ácidos na pele são 100 vezes mais atraentes para a fêmea Aedes aegypti, um tipo de mosquito responsável pela propagação de doenças como dengue, febre-amarela ou Zika.
Os resultados deste estudo, que foram publicados na terça-feira na revista Cell, podem levar à criação de novos produtos que podem mascarar ou alterar certos odores humanos, dificultando que os mosquitos encontrem sangue humano e potencialmente travando a propagação de doenças.
As doenças transmitidas por mosquitos afectam cerca de 700 milhões de pessoas por ano, e os especialistas esperam que esse número aumente à medida que a temperatura global também aumenta, refere Jeff Riffell, professor na Universidade de Washington e um especialista em mosquitos, que não esteve envolvido na investigação.
Os mosquitos A. Aegypti são conhecidos por viverem em climas tropicais ou subtropicais, mas o insecto reproduz-se actualmente durante todo o ano no distrito de Columbia e partes da Califórnia.
Só por respirarmos, estamos a comunicar aos mosquitos a nossa presença, descreve Leslie Vosshall, directora científica do Instituto Médico Howard Hughes e investigadora principal no novo estudo. Os mosquitos fêmeas são criados para morder para obter sangue porque sem ele estes insectos não terão proteínas suficientes para se reproduzirem.
“Pensem nisto com um grande batido proteico. É uma forma destes insectos, durante um minuto, ingerirem o equivalente a 150 quilos de comida e depois usarem-no para produzir ovos”, conclui a investigadora.
Os cientistas já tinham conhecimento que estes mosquitos preferiam alguns humanos a outros, mas a razão para isso acontecer não é totalmente compreendida.
Os especialistas concluíram que as pessoas parecem tornar-se mais atraentes para os mosquitos quando estão grávidas ou depois de terem bebido algumas cervejas, levando a mais investigações sobre se os mosquitos podem ser atraídos por certos odores.
Vosshall procurou descobrir porque é que algumas pessoas parecem cheirar melhor a um mosquito A. Aegypti do que outras.
Felizmente, ninguém teve de se sentar numa sala cheia de mosquitos para conduzir esta experiência. Em vez disso, os investigadores recolheram o cheiro natural da pele das pessoas, fazendo-as usar meias de nylon nos braços. Cortaram as meias em pedaços de cinco centímetros e colocaram dois pedaços de tecido atrás de duas armadilhas separadas por portas numa caixa de plástico transparente, onde dezenas de mosquitos voavam. Os investigadores deixavam os insectos entrar e estes tinham então de optar por uma das armadilhas.
Os investigadores conduziram um torneio ao estilo round-robin e contabilizavam cada vez que um insecto era atraído para uma determinada amostra, num sistema muito semelhante aos pontos de um jogo de basquetebol. Uma das amostras, descrita como sendo do “indivíduo 33”, surgiu como uma das favoritas dos insectos. O “'indivíduo 33’ ganhou uma centena de jogos. Foram totalmente imbatíveis. Ninguém os venceu”, mencionou Vosshall.
O estudo descobriu que as pessoas como o “indivíduo 33”, que têm níveis mais elevados de compostos chamados ácidos carboxílicos na pele, são mais susceptíveis de serem “ímanes de mosquitos”, descreveu a investigadora.
Todos os seres humanos produzem ácido carboxílico através do sebo na pele. O sebo é então comido por milhões de microrganismos benéficos para produzir mais ácido carboxílico. Em grandes quantidades, o ácido pode produzir um odor que cheira a queijo ou a pés malcheirosos, indicou Vosshall. Este cheiro parece atrair os mosquitos fêmeas na caça ao sangue humano.
As meias de nylon utilizadas durante o estudo não cheiravam realmente a suor, referiu a investigadora. Os mosquitos são incrivelmente sensíveis ao odor humano e o uso de perfume não consegue disfarçá-lo. A experiência foi conduzida ao longo de três anos e as mesmas pessoas continuaram a ser atractivas para os mosquitos, independentemente do que comiam nesse dia ou se mudavam de champô. “Se hoje fores um íman de mosquitos, serás um íman de mosquitos daqui a três anos”, descreveu Vosshall.
O estudo não respondeu à questão de por que razão é que algumas pessoas têm mais ácidos carboxílicos na pele do que outras. Mas a investigadora responsável pelo estudo mencionou que a composição do microbioma da pele é única em cada indivíduo.
“Toda a gente tem uma aldeia completamente única de bactérias que vivem na pele. Algumas das diferenças do magnetismo dos mosquitos que estamos a ver aqui podem ser simplesmente as diferenças nos tipos de bactérias”, indicou Vosshall.
LJ Zwiebel, professor na Universidade de Vanderbilt que não trabalhou nesta investigação, refere que embora os ácidos carboxílicos estejam claramente implicados no estudo, não há nenhum “composto único” que atraia mosquitos. É provavelmente um cocktail de diferentes componentes que sinaliza o mosquito. “O mosquito é um íman multimodal, que utiliza muitos sinais diferentes.” Os ácidos carboxílicos são, então, “um componente significativo, mas não único”.
A quem não queira ser mordido por mosquitos, Zwiebel aconselha a tomar um duche para cortar “todos estes compostos suculentos” que estão na pele, especialmente ao redor dos pés, com os seus “odores singulares”.
Vosshall referiu ainda que está para se descobrir como “manipular” os odores que têm origem na pele e, potencialmente, nas bactérias que aí vivem. Os cientistas, por exemplo, podem vir a ser capazes de desenvolver um creme probiótico para a pele que interfira ou reduza os níveis de certos subprodutos, o que poderá tornar uma pessoa menos atraente para os mosquitos. “Só quando se compreender o que faz das pessoas um íman de mosquitos é que se pode começar a pensar em formas de o impedir”, afirmou.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post