Popularidade da primeira-ministra britânica em queda livre
Sondagem da YouGov mostra que apenas um em cada dez eleitores tem uma opinião positiva sobre Truss e que 55% dos militantes conservadores defendem a sua demissão. Reacção negativa dos mercados levou a líder tory a deixar cair quase todas as promessas económicas que a levaram ao poder.
A popularidade da primeira-ministra do Reino Unido, Elizabeth Truss, continua a cair a pique, pouco mais de um mês depois de ter assumido o cargo, substituindo Boris Johnson, e na sequência de uma série de recuos nas promessas económicas que a levaram ao poder.
Na última sondagem da YouGov, realizada entre os dias 14 e 16 deste mês, e publicada nesta terça-feira, apenas um em cada dez britânicos diz ter uma opinião positiva sobre Truss.
Com menos de 70% de taxa de popularidade líquida (com base no cálculo entre os 10% que a apoiam, contra 80% de opiniões desfavoráveis), e uma queda de 14 pontos percentuais em apenas uma semana, a primeira-ministra é agora a líder política britânica mais impopular dos últimos 20 anos no Reino Unido.
Em comparação, no seu pior momento como primeiro-ministro, em Julho deste ano — quando foi forçado a demitir-se, acossado por vários escândalos, e perdeu o apoio de praticamente todo o Governo —, Johnson apresentava uma taxa de popularidade de menos 53%.
Outro exemplo que atesta bem as dificuldades de Liz Truss é o de Jeremy Corbyn. A pior taxa de popularidade do antigo líder do Partido Trabalhista foi de menos 55%, em Julho de 2019.
Com a libra em queda e as taxas de juro da dívida pública do Reino Unido a subirem num ápice por causa do plano económico de Truss — que apostava num corte de impostos avaliado em 45 mil milhões de libras e num pacote de apoios que, com a duração de dois anos, poderia chegar a um custo total superior a cem mil milhões de libras —, a líder tory recuou em praticamente todas as promessas que fez durante a corrida interna à sucessão de Boris Johnson, durante o Verão.
Para tal, despediu o seu (amigo e) ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, com apenas 37 dias no cargo, e nomeou Jeremy Hunt (ex-ministro da Saúde e dos Negócios Estrangeiros) para o seu lugar. Foi, aliás, o próprio Hunt que, num comunicado ao país, na segunda-feira, confirmou o abandono das principais bandeiras eleitorais de Truss.
A imprensa britânica — incluindo os jornais conservadores mais próximos dos tories, como o Daily Mail, o Sun ou o Telegraph — está a tratar estes recuos de Truss como uma “humilhação”, que põe seriamente em causa a sua autoridade política, e que a deixa praticamente sem hipóteses de vir a liderar o Partido Conservador nas próximas eleições legislativas, previstas para 2024.
Até porque, no actual estado de coisas, o Partido Trabalhista, de Keir Starmer, lidera todas as sondagens a nível nacional, algumas delas, como a última da YouGov, com vantagens próximas dos 30% das intenções de voto.
Em entrevista à BBC na segunda-feira à noite, Truss pediu “desculpa pelos erros” que cometeu, mas garantiu que vai guiar o partido até às próximas eleições.
“Quero assumir as responsabilidades e pedir desculpa pelos erros que foram feitos. Queria ajudar as pessoas com as suas facturas energéticas e lidar com a questão dos impostos elevados. Mas fomos demasiado longe e demasiado rápido. Assumo isso”, afirmou.
Se é certo que Truss tem como trunfo político o facto de ter sido escolhida para líder do partido e do Governo por 57% dos militantes conservadores — os restantes 43% optaram pelo ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, que previu a reacção negativa dos mercados aos planos da sua adversária —, os números revelados pela YouGov no campo conservador não lhe são, no entanto, favoráveis.
Entre os militantes do partido, 55% defendem que Truss se devia demitir e 32% dizem que Boris Johnson seria o melhor candidato à sua sucessão.
E entre o eleitorado que se assume como conservador, apenas 20% afirmam ter uma opinião positiva sobre a primeira-ministra. Feitas as contas com os 71% que dizem ter uma opinião negativa, a taxa de popularidade líquida de Truss é -51% neste grupo de eleitores. Pior: representa uma queda de 26 pontos percentuais em comparação com a última sondagem, da semana passada.
Nesta terça-feira, a primeira-ministra britânica está em contenção de danos. Depois de ter reunido o Conselho de Ministros durante a manhã, falou no final da tarde com os membros do European Research Group (ERG), o grupo dos deputados conservadores eurocépticos e neoliberais.
Jacob Rees-Mogg, ministro do Comércio e figura de proa do ERG, disse que a reunião com Truss “correu muitíssimo bem”.