As ruas de Cidões vão voltar a ser invadidas por trasgos, deusas, druidas e diabos na noite de 31 de Outubro. Depois de dois anos de interregno devido à pandemia, a Festa da Cabra e do Canhoto regressa à aldeia do concelho de Vinhais para uma noite de Halloween à portuguesa.
Inspirada nas tradições celtas milenares que deram origem à festa, toda a aldeia é decorada com motivos celtas, velas e estrelas flamejantes. O antigo largo da eira é o palco principal dos festejos, este ano com “um espaço maior e devidamente preparado para receber” os visitantes, mas também será instalada uma tenda para garantir a existência de zonas cobertas “em caso de chuva”, adianta a organização em comunicado.
Quanto a tasquinhas e petiscos, não vão faltar o “café no pote com a brasa”, vinho, sangria e licores celtas, assim como caldo verde, bifanas, feijoada à Cidões ou enchidos tradicionais. E, claro, “cabra machorra” cozinhada em “enormes potes de ferro na fogueira”, uma representação da “mulher do diabo que não deu qualquer descendência”.
Entre as tradições da noite conta-se o cortejo celta com a presença dos cerca de 20 habitantes da aldeia, o acender da “estrela gigante” e da “enorme fogueira com o canhoto” onde, por volta das 23h, o “cabrão” ou “bode gigante”, uma “figura escultórica com sete metros de altura”, há-de arder depois de ser empurrado pelas deusas.
Ao longo de toda a noite, a festa é animada pelo grupo Aninamos (de Santa Maria da Feira), pelo Teatro Filandorra e pelos grupos de gaitas de fole e bombos Encharca o Fole e Gaiteiros de Zido. “Este ano convidamos todos a virem vestidos com roupa celta, para se envolverem plenamente no misticismo desta original tradição”, convoca a organização em comunicado.
Outro dos “momentos altos da festa” é quando “o druida e as suas deusas fazem o esconjuro e preparam a queimada”, de modo a afastar “os males do corpo e da alma, invocando prosperidade, fertilidade e sorte” para o Inverno, “a ‘estação escura’ que se avizinha”. A apoteose da festa é a luta travada entre o druida e o diabo, que termina com “este último a ser expulso da aldeia para voltar só na noite de 31 de Outubro do ano seguinte”.
Esta é uma celebração milenar, vestígio do tempo celta, ainda que durante muitos anos a origem se tivesse perdido no esquecimento, substituída pelos bailes do magusto. A Associação Raízes recuperou as tradições celtas e, nos últimos anos antes da pandemia, a festa tinha vindo a ganhar popularidade. “Todos os anos recebemos mais de duas mil pessoas, acreditamos que este ano não será diferente”, refere José Taveira, presidente da direcção da associação, em comunicado.
A dimensão que a festa adquiriu fez aumentar “as exigências e até a profissionalização, que começa a acontecer nesta edição de 2022”, acrescenta a organização, ainda que se mantenha “a cooperação e a coordenação dos locais, verdadeiros zeladores das características originais e tradicionais deste evento”.
Originalmente designada de “Samhain”, esta era a celebração mais importante do calendário celta, festejada em toda a Europa até à conversão ao cristianismo, e marcava a passagem para o “Ano Novo Celta”, que “tinha início com a estação escura”, aponta a nota de imprensa.