O festival de cinema das mulheres no Mediterrâneo, agora com o Líbano em foco

A nona edição do Olhares do Mediterrâneo - Women’s Film Festival passa pela Cinemateca e o Cinema São Jorge, em Lisboa, de 14 a 20 de Novembro.

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The Hour of Liberation Has Arrived, de 1974, é um dos filmes de Heiny Srour, realizadora que vem ao Olhares do Mediterrâneo representar o país convidado, o Líbano DR

Em Lisboa, entre 14 e 20 de Novembro, o festival Olhares do Mediterrâneo - Women's Film Festival, vai mostrar, como o nome indica, filmes feitos por mulheres à volta do Mediterrâneo na Cinemateca, nos primeiros dias, e no Cinema São Jorge, nos seguintes. Nesta que será a sua nona edição, terá pela primeira vez um país convidado, o Líbano. Para o ajudar nisso, o festival terá a presença de Heiny Srour (n.1945), a primeira mulher árabe a ter um filme em Cannes – e o filme em questão, o documentário The Hour of Liberation Has Arrived, de 1974, poderá ser visto na Cinemateca.

Ao telefone, Silvia di Marco, que é uma das directoras do festival, além de, entre outras tarefas, ser também coordenadora de programação, explica ao PÚBLICO que o Líbano surge por causa da “ligação”, criada nos últimos anos, entre o Olhares do Mediterrâneo e o Beirut International Women Film Festival, além do “momento muito complicado” que o país “atravessa” agora. “A Primavera Árabe chegou aos outros países em 2011, mas só em 2019 é que explodiu no Líbano”, conta, adicionando que também é um país com uma filmografia “viva” e “rica”, especialmente em comparação com outros países do Médio Oriente. Queriam também “fazer um apanhado quase histórico, para dar a conhecer algo muito pouco conhecido em Portugal”, daí pegarem em 50 anos de cinema libanês.

Fora do Líbano, o filme de abertura das sessões no São Jorge (quinta-feira, dia 17), é Murina, da croata Antoneta Alamat Kusijanović, vencedora da Câmara de Ouro em Cannes em 2021. Co-produzido por Martin Scorsese, passa-se “num fim-de-semana numa ilha da Croácia de uma beleza extraordinária” e foca “uma filha adolescente que se revolta completamente contra o pai”. “Tem muitas cenas filmadas debaixo de água, é muito forte do ponto de vista visual, e responde muito bem aos Olhares do Mediterrâneo”, comenta a directora. Já o filme de encerramento, Under the Fig Trees, da franco-tunisina Erige Sehiri, centrado em trabalhadores da apanha de figos, é “um filme bucólico e sereno” que esconde “uma crítica social muito forte”.

De Srour, que dará uma masterclass, ver-se-á também Leila and the Wolves, documentário de 1984. “São filmes muito militantes, com uma vertente por um lado anti-colonialista e por outro feminista, a mostrar o papel das mulheres nas revoluções que aconteceram e nas lutas anti-coloniais”, partilha Silvia di Marco. Ainda na Cinemateca e no Líbano, passa A Civilized People, de 1999, de Randa Chahal (1953-2008) – “fala da guerra civil com um humor negro que só alguém que viveu a guerra de perto pode ter”, comenta a directora –, e Sherazad's Diary, de Zeina Daccache, de 2013, “sobre um trabalho de teatro feito pela realizadora numa prisão feminina”.

O Líbano estará ainda presente no São Jorge, com filmes como o documentário Beirut - Eye of the Storm, de Mai Masri, que “acompanha quatro artistas que vivem em Beirute e participaram nas revoltas de 2019, os confinamentos de covid-19 e a explosão no Porto de Beirute”, ou a curta Warsha, de Dania Bdeir, “sobre um refugiado sírio queer que trabalha nas obras em Beirute”.

Em termos de convidadas, a directora destaca ainda a presença da italiana Beatrice Baldacci, que vem apresentar o seu The Den, “um coming of age sobre a iniciação de um jovem de 18 anos que vive no campo com os pais e de repente chega uma vizinha mais velha que o inicia em jogos perigosos”, e a espanhola Claudia Pinto​, que traz Las Consecuencias, que, “tal como o filme de abertura, tem o mar como protagonista”.

Há também várias curtas-metragens em competição, incluindo uma secção chamada Começar o Olhar, para filmes feitos em contexto escolar.

Silvia di Marco chama ainda a atenção para, no dia 17, o debate sobre a questão palestiniana a partir de Erasmus in Gaza, uma média documental dos italianos Chiara Avesani e Matteo Delbò sobre um estudante de medicina que faz Erasmus na faixa de Gaza, bem como uma sessão de curtas dedicadas à sexualidade feminina. No dia 20, o último dia, há uma sessão de curtas para famílias, bem como uma sessão da curta Ary, de Daniela Guerra, que será seguida de um debate sobre pessoas transgénero.

Todas as actividades paralelas às sessões de cinema, tirando um atelier chamado Olhares em Pequenino, são de entrada gratuita, mediante o levantamento de bilhete, e os filmes são legendados em inglês e português, excepto no caso das sessões de curtas para famílias, que são legendados só em português.

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