No dia 16 de Outubro de 2022 realizou-se o tão aguardado debate entre os candidatos do 2.º turno à Presidência da República do Brasil: o actual Presidente, Jair Bolsonaro, e o ex-Presidente, Lula da Silva.
Lula mostrou que quer “reconquistar” as cores da bandeira do Brasil para o PT, aparecendo no debate com uma gravata em tons amarelo e verde, numa estratégia clara de aproximar o eleitorado e afastar o vermelho do PT. Por outro lado, Bolsonaro foi acompanhado pelo juiz e ex-ministro Sérgio Moro, recém-eleito senador pelo estado do Paraná, que integrou a comitiva do Presidente para o debate, fazendo questão de mostrar a reconciliação e o apoio no 2.º turno a Bolsonaro.
O modelo de debate adoptado favoreceu, claramente, Lula da Silva no sentido de adoptar logo de início uma postura próxima das pessoas – saindo detrás do púlpito e livremente colocava-se muito próximo das câmaras, gesticulando bastante e com um olhar fixo para os telespectadores. Impôs-se a carismática persona política de Lula contra a rígida “postura militar” de Bolsonaro.
O potpourri do debate foi um verdadeiro cata-vento de argumentos, cada um puxando para os seus temas predilectos – educação, gestão da pandemia, fake news, corrupção, casos pessoais e acusações (muitas acusações)!
Lula foi de mais a menos, já pelo contrário Bolsonaro guardou todas as suas cartadas para o último confronto, no qual aproveitou um erro de Lula na gestão do tempo e teve mais de cinco minutos de tempo de antena, aproveitando para disparar sobre os casos de corrupção, como o “Petrolão” da Operação Lava-Jato.
Lula dominou a primeira parte do debate quando o assunto foi educação e a gestão da pandemia, acusando Bolsonaro de ser o responsável de mais de 600 mil mortes pela covid-19, pela negligência e despreocupação em enfrentar a pandemia e a completa aversão à ciência na adquisição célere das vacinas. Já Bolsonaro tentou chegar aos eleitores nordestinos (região fundamental para a vitória de Lula no 1.º turno) com o seu programa social “Auxílio Brasil” e pelas obras efectuadas na transposição do rio São Francisco.
No fundo, os analistas falam em empate entre os candidatos, com vantagem inicial para Lula e um final melhor para Bolsonaro, mas existe uma clara derrota na noite do debate: os brasileiros.
As generalizadas trocas de acusações entre os candidatos, cada um acusando o outro de mentir descaradamente – com a palavra “mentira” a ser seguramente a mais utilizada no debate –, aliado às inúmeras trocas de assuntos pessoais levou o debate para um patamar de completo alienamento sobre as questões fundamentais para o futuro do Brasil.
Num dos momentos mais difíceis para a economia mundial, com recessões à vista, uma inflação galopante, uma guerra na Europa e uma grave crise energética, o Brasil, com uma enorme bipolarização entre dois modelos políticos completamente distintos, não conseguiu que os seus candidatos (em aproximadamente duas horas de debate) discutissem as propostas e ideias que querem para o futuro do país. Deixaram-se enredar em intrigas pessoais e acusações descabidas.
O passado foi a tónica principal do debate. O futuro agora fica na mão de mais de 200 milhões de brasileiros que vão decidir no dia 30 de Outubro os seus destinos.