Benzema é o melhor do mundo, Rafael Leão é o melhor de Portugal

Em França, venceu o francês. Na noite em que o avançado do Real Madrid se tornou o primeiro gaulês a ser coroado melhor jogador do mundo desde 1998, o português Cristiano Ronaldo perdeu o “poleiro” de melhor futebolista nacional.

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Benzema celebra pelo Real Madrid EPA/Rodrigo Jimenez

Nesta segunda-feira, em Paris, por volta das 19h, Karim Benzema chegou sorridente ao Théâtre du Châtelet, de smoking e óculos, e disse “é a minha primeira vez aqui e espero ter boas notícias esta noite”. Em Paris, por volta das 21h, Karim Benzema recebeu as tais boas notícias: é o melhor jogador do mundo e sucede a Lionel Messi, que nem sequer teve a possibilidade de ceder o seu título in loco, ficando fora dos 30 finalistas.

Já houve anos em que a Bola de Ouro só foi parar à mão do melhor jogador do mundo no momento em que foi anunciado o seu nome. Em 2022, Karim Benzema já tinha o troféu na mão ainda antes de entrar na cerimónia. Serve a hipérbole para ilustrar que não foi surpresa para ninguém o que se passou nesta segunda-feira, em Paris, quando a France Football anunciou, pela voz de Zinedine Zidane, que o melhor jogador do mundo é Benzema, jogador de 35 anos, do Real Madrid. Em França, venceu o francês, com “patrocínio” de um outro francês — simbolicamente, foi o piloto gaulês Esteban Ocon quem levou ao Châtelet, no seu Alpine de Fórmula 1, o troféu da Bola de Ouro.

Tão ou mais surpreendente do que ver um troféu de futebol à boleia de um Fórmula 1 terá sido o que se passou no prisma português, já que, 16 anos depois, Cristiano Ronaldo deixou de ser o melhor futebolista nacional. A premissa não parte de análises subjectivas, mas da bitola do prémio da France Football, cuja votação colocou Ronaldo em 20.º lugar. Pela primeira vez desde 2006 (na altura batido por Deco), o madeirense teve um português à sua frente: foi Rafael Leão, que ficou em 14.º lugar na votação.

Para o jogador madeirense, esta será uma notícia agridoce. Por um lado, está habituado a posições de maior destaque e perde o estatuto intocável do qual gozava há mais de uma década. Por outro, a temporada menos boa a nível individual e colectivo faz com que o top 20 não seja, numa avaliação global, um lugar de desdenhar por Ronaldo, cujo desempenho em 2021/22 poderia ter valido uma posição mais modesta na tabela final.

Já Leão destaca-se novamente no plano individual, depois de já ter sido considerado o melhor jogador da Liga italiana. O jogador do AC Milan vive um momento curioso da carreira, já que é um titular absoluto no clube italiano e é o melhor jogador da Série A, mas não tem, por estes dias, uma posição na selecção portuguesa que confirme o estatuto de 14.º melhor jogador do mundo.

Um olhar para os nomes dos 30 finalistas mostra que apenas Leão (concorre com Jota), Nkunku (atrás de Mbappé), Fabinho (alternativa a Casemiro), Maignan (tête-à-tête com Lloris) e Foden (rotação no ataque inglês) não têm a titularidade nas suas selecções nacionais como um dado adquirido.

Ainda no domínio nacional, nota para o 22.º lugar de Bernardo Silva, que em tese sairá desta gala com o sabor oposto ao de Ronaldo: a temporada a nível colectivo e individual valeria, no plano teórico, um lugar de maior destaque do que esta posição fora do top 20. O outro português nomeado, João Cancelo, ficou em 25.º lugar.

O ranking final da Bola de Ouro:

1. Benzema
2. Mané
3. De Bruyne
4. Lewandowski
5. Salah
6. Mbappé
7. Courtois
8. Vinícius Jr.
9. Modric
10. Haaland
11. Son
12. Mahrez
13. Haller
14. Fabinho e Leão
15. Van Dijk
16. Luis Díaz, Casemiro e Vlahovic
17. Ronaldo
18. Kane
19. Bernardo, Alexander-Arnold e Foden
20. Darwin, Nkunku, Kimmich, Rüdiger, Maignan e Cancelo

Os “Benzemas” colectivo e individual

Voltando ao herói da noite, Karim Benzema, a distinção como melhor do mundo foi uma mera formalidade, tendo em conta os argumentos que favoreciam o atacante francês.

Quando se fala de Bola de Ouro, a discussão sobre os critérios a adoptar é sempre a mesma. Valem mais os troféus colectivos ou o desempenho individual? Caso ambas as vertentes sejam para considerar, qual deve ter maior peso? Um jogador com um nível individual tremendo deve ser prejudicado pela falta de títulos? E um jogador muito titulado numa temporada deve ser beneficiado por esse facto, mesmo não sendo individualmente exuberante?

Para 2022, todas estas questões perdem sentido, porque Karim Benzema tratou de arrebatar os domínios colectivo e individual deste prémio. O avançado foi campeão da Liga espanhola e da Liga dos Campeões e melhor marcador de ambas as provas. A nível geral, marcou 44 golos e fez 15 assistências em 46 jogos. É certo que Robert Lewandowski até marcou mais golos do que Benzema, mas o Bayern de Munique ficou longe do troféu da Champions. Não havia como bater Benzema.

Para o francês, este prémio é uma consagração tardia para alguém em final de carreira e que se tornou o segundo jogador mais velho a vencer este troféu superou os 34 anos de Messi e Lev Yashin, mas ainda ficou longe dos 41 de Stanley Matthews.

Nunca o gaulês tinha chegado ao “poleiro” do futebol mundial e desde 1998, com Zinedine Zidane, que não cabia aos franceses a honra de terem o melhor jogador do mundo. Curiosamente, tanto Zidane como Benzema têm ascendência argelina, algo que atesta o peso das ex-colónias francesas no nível do futebol do país.

Putellas também confirmou favoritismo

No futebol feminino, o Olimpo também não tem “dona” inesperada. Alexia Putellas confirmou o favoritismo e é a melhor jogadora do mundo. Aos 28 anos, a espanhola do Barcelona recebeu uma boa notícia depois da desilusão que foi a lesão grave que a manterá afastada dos relvados pelo menos até à Primavera.

O talentoso pé esquerdo da jogadora catalã contribuiu para 34 golos e 19 assistências em 42 jogos na temporada, juntando ao desempenho individual os títulos da Liga espanhola, Supertaça e Taça da Rainha. Falhou apenas a Champions, perdendo na final frente ao Lyon.

Este prémio obriga Putellas a encontrar espaço em casa para mais uma Bola de Ouro, para juntar à que conquistou em 2021.

Desta gala nota ainda para os prémios atribuídos a Pedri (melhor jovem), Mané (futebolistas que promovem causas sociais), Lewandowski (melhor marcador) e Courtois (melhor guarda-redes).

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