Noite de Reis: a dança dos géneros
Para onde vamos? O que andamos para aqui a fazer? São questões a que William Shakespeare não responde, mas subtilmente e à maneira do século XVII explora ao longo desta comédia, enquanto desenrola o delirante entrecho que Peter Kleinert encena com à-vontade e um apurado sentido de espectáculo.
Um naufrágio. Uma rapariga salva à justa que, por razões práticas e de segurança, se torna rapaz e sem sequer recorrer a um centro de emprego ou uma cunha num instante arranja trabalho na casa de um nobre como mensageira de uma paixão não correspondida. Depois? Bom, a seguir é mais ou menos o costume: moça apaixona-se por patrão que pensa ser ela um rapaz; nobre pretendida por aristocrata, que não quer saber dele para nada, toma-se de amores pelo criado, que é afinal uma criada. Acrescenta-se a esta trama uma intriga paralela, digamos, moral, para humilhar um cabotino pretensioso; ocorrem coincidências improváveis… Por fim, por mor da habilidade de um dramaturgo genial, dadas as intricâncias e concluídas as constantes reviravoltas do enredo, acaba tudo bem: os pares devidamente emparelhados, a ordem sentimental restabelecida e, no ar, a ambiguidade sexual explorada pela peça a servir de alimento aos estudos de género.
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