Noite de Reis: a dança dos géneros

Para onde vamos? O que andamos para aqui a fazer? São questões a que William Shakespeare não responde, mas subtilmente e à maneira do século XVII explora ao longo desta comédia, enquanto desenrola o delirante entrecho que Peter Kleinert encena com à-vontade e um apurado sentido de espectáculo.

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Peter Kleinert transforma este clássico numa variedade de delírio, a espaços, musical, evoluindo ao ritmo frenético de um circo de três pistas. Rui Carlos Mateus
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Cenário de Céline Demars, figurinos de Ana Paula Rocha, desenho de luz de Guilherme Frazão, e música de Ariel Rodriguez Rui Carlos Mateus
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Actores em palco: André Pardal, Ariel Rodriguez, Binete Undonque, Diogo Bach, Carolina Dominguez, Erica Rodrigues, Ivo Marçal, João Cabral, João Farraia, Leonor Alecrim, Pedro Walter Rui Carlos Mateus
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Rui Carlos Mateus

Um naufrágio. Uma rapariga salva à justa que, por razões práticas e de segurança, se torna rapaz e sem sequer recorrer a um centro de emprego ou uma cunha num instante arranja trabalho na casa de um nobre como mensageira de uma paixão não correspondida. Depois? Bom, a seguir é mais ou menos o costume: moça apaixona-se por patrão que pensa ser ela um rapaz; nobre pretendida por aristocrata, que não quer saber dele para nada, toma-se de amores pelo criado, que é afinal uma criada. Acrescenta-se a esta trama uma intriga paralela, digamos, moral, para humilhar um cabotino pretensioso; ocorrem coincidências improváveis… Por fim, por mor da habilidade de um dramaturgo genial, dadas as intricâncias e concluídas as constantes reviravoltas do enredo, acaba tudo bem: os pares devidamente emparelhados, a ordem sentimental restabelecida e, no ar, a ambiguidade sexual explorada pela peça a servir de alimento aos estudos de género.

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