No caminho para a “consolidação”, Close-Up regressa para encontrar a família no cinema

O Close-Up – Observatório de Cinema de Famalicão decorre até ao próximo sábado, 22 de Outubro, na Casa das Artes, num programa dedicado à “Família Cinema” com mais de 30 sessões, incluindo a obra integral de Catarina Mourão, filmes-concerto, e revisitações à história do cinema.

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Na Fantasia Lusitana, dedicada à produção nacional, haverá uma retrospectiva à obra de Catarina Mourão, que assinala 25 anos de carreira lm miguel manso

O lugar está cimentado, mas a ideia é continuar a crescer, “passo a passo”. O Close-Up – Observatório de Cinema de Famalicão está de regresso rumo à “consolidação” enquanto um dos eventos a ter em conta quando se fala de cinema fora das grandes áreas metropolitanas. A sétima edição arranca este sábado e termina no dia 22 de Outubro.

Estabelecido desde 2016 na Casa das Artes de Famalicão, o Close-Up surgiu enquanto mostra de cinema regular, manifestando-se várias vezes ao longo do ano e incluindo-se na própria programação do espaço cultural famalicense. O ponto alto dá-se em Outubro e durante oito dias consecutivos toda a Casa das Artes é ocupada pelo cinema, não só com a exibição de filmes, quase sempre comentados, mas também com sessões para escolas, filmes-concerto e exposições dedicadas a cineastas. Ainda assim, rejeita imiscuir-se na concepção de festival, primeiro porque coloca o diálogo à frente da competição e depois porque já habita um local.

“Saímos muito fora dessa ideia de um festival porque resistimos sempre à ideia de não haver competição e porque um festival é normalmente organizado por uma entidade de fora que ocupa um espaço durante uma semana ou dez dias. Aqui, o Close-Up faz parte da agenda do teatro municipal [Casa das Artes]”, explica ao PÚBLICO o programador Vítor Ribeiro.

Festival ou não, o certo é que o Close-Up é um dos poucos eventos cinematográficos, com a escala de uma semana, que se desenrolam no Minho. Há o Encontros de Cinema, em Viana do Castelo, e o MDoc – Festival Internacional de Documentário de Melgaço, mas são dedicados exclusivamente ao documentário. Daí que Vítor Ribeiro já admita falar de um “lugar cimentado”.

Ainda antes do surgimento da pandemia, em 2019, a semana de Outubro do Close-Up recebeu quatro mil pessoas. “É um número bastante razoável para uma cidade média e não muito urbana como Famalicão”. A consolidação no território tem sido, por isso, “permanente” e a ideia passará, quem sabe, por chegar à escala do Curtas Vila do Conde, uma referência quando se fala em encontros do cinema fora das grandes urbes. “Espero que possamos lá chegar, mas acho que as coisas se devem solidificar passo a passo, e não podemos dar passos maiores que as pernas”.

Catarina Mourão, Antonioni, Pasolini e filmes-concerto em destaque

A sétima edição do Close-Up desenha-se sobre os mesmos moldes das anteriores: seleccionam-se os filmes e escolhe-se um mote. Este ano, é a família na cidade e vem na sequência do anterior, a noção de comunidade. “No ano passado, elogiamos a ideia da comunidade através do cinema, ou seja, de juntar o público, como se a sala fosse uma espécie de abrigo, e até de resistência. Este ano, fizemos uma espécie de zoom a isso”, esclarece o programador.

Este ano, estão previstas mais de trinta sessões, divididas por diferentes secções. Na Fantasia Lusitana, dedicada à produção nacional, haverá uma retrospectiva à obra de Catarina Mourão, que assinala 25 anos de carreira, e se dedica a retratar a família “à escala nuclear”, em filmes como Dama de Chandor e Ana e Maurizio, mas também “à dimensão do Portugal contemporâneo” como em Fora de Água, lembra Vítor Ribeiro.

Pelo meio, na secção História do Cinema, serão exibidos os filmes Accatone, Mamma Roma e Passarinhos e Passarões, de Pier Paolo Pasolini, e Aventura, de Michalangelo Antonioni. Nas Paisagens Temáticas, secção na qual o mote família no cinema mais se expressará, serão exibidos A Vida Depois de Yang, do sul-coreano Kogonada, e que será comentado pelo crítico do PÚBLICO Luís Miguel Oliveira, Jane por Charlotte, de Charlotte Gainsburg, As Irmãs Macaluso, de Emma Dante, Gato Preto Gato Branco, de Emir Kusturica, e Gritos, de Matt Bettinelli-Olpin.

A aposta nos filmes-concerto terá manifestação no cruzamento entre os Haarvöl e o filme que fez nascer o expressionismo alemão, O Gabinete do dr. Caligari, de Robert Wiene, e entre as imagens de arquivo de super 8 de Jorge Quintela, em Memorabilia, e o projecto Miramar. Na Casa das Artes, estarão ainda reservadas sessões para famílias e para escolas, uma exposição dedicada a Federico Fellini e dj sets.

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