Bruno Latour

Parece uma evidência, mas não é. “Aterrar”, ganhar consciência de que estamos todos embarcados nesta Terra que é una e é também uma entidade política, disse Latour com enorme eloquência, não tem sido fácil.

Morreu Bruno Latour e, de tudo o que se escreveu agora sobre a sua obra e o seu pensamento, ressalta a conclusão, muito simples, de que não há, para ele, nenhuma classificação disponível, já que praticou sem moderação a invenção disciplinar, aboliu e deslocou fronteiras, interrogou e reformulou os instrumentos analíticos das ciências humanas e sociais. A sua disciplina de origem é a sociologia, ou melhor, acrescentou ele para nos baralhar, a antropologia das ciências. Mas a sua irradiação pública, de forte dimensão internacional, só atingiu o elevado nível que se reconhece quando ele emergiu no campo da ecologia política e começou a pensar o acontecimento das alterações climáticas e da mutação ecológica global que elas provocaram. A questão de onde parte é a de saber que nós somos profundamente e irremediavelmente terrestres.

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