Neandertais e humanos modernos viveram juntos na Europa por mais de 2000 anos

Um novo estudo, na senda do Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia deste ano, corrobora a tese de que o desaparecimento dos neandertais se deve à sua absorção dentro da população dos humanos modernos.

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Reconstituição de um grupo de neandertais ELISABETH DAYNES/SCIENCE PHOTO LIBRARY

Os neandertais coexistiram com os humanos modernos em vários lugares da actual França e do Norte da Espanha durante mais de 2000 anos, período em que estes dois grupos humanos tiveram tempo de se misturar.

O estudo, baseado na descoberta de fósseis, foi publicado esta quinta-feira na revista científica Scientific Reports, mas não apresenta provas directas de uma interacção entre estas duas populações, algo que terá ocorrido há cerca de 40.000 anos.

Mas os cientistas sabem que existiu contacto entre neandertais e humanos modernos (Homo sapiens sapiens), como revelado, entre outros, pelo mais recente Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia, o paleogeneticista sueco Svante Pääbo. Grande parte da população mundial tem algum ADN de neandertal.

Os investigadores “não sabem em qual região específica” ocorreram os possíveis encontros, sublinha um dos autores do estudo, Igor Djakovic, estudante de doutoramento na universidade neerlandesa de Leiden.

A duração da coexistência entre os dois grupos humanos também permanece sujeita a debate.

Na tentativa de responder a estas perguntas, a equipa de Leiden examinou 56 objectos a partir da datação por carbono-14, metade destes objectos atribuídos aos neandertais e a outra aos humanos modernos, tendo sido encontrados em 17 sítios arqueológicos em França e no Norte da Espanha.

Os cientistas utilizaram as datas desses objectos, incluindo ossos e utensílios de pedra atribuídas aos últimos neandertais, em modelos estatísticos e probabilísticos. A conclusão aponta que os neandertais desapareceram há cerca de 40.870 a 40.457 anos, enquanto os humanos modernos apareceram nesta parte do continente europeu há cerca de 42.500 anos.

Isto significaria que as duas espécies coexistiram por um período de 1400 a 2900 anos. Este período coincide com uma grande “difusão de ‘ideias'” entre estas duas populações, referiu Igor Djakovic à agência de notícias AFP.

O período de coexistência está “associado a transformações substanciais na forma como os humanos [modernos] produziam objectos culturais”, como ferramentas ou ornamentos, segundo o investigador.

Os objectos produzidos pelos neandertais também mudaram “dramaticamente” e começaram a assemelhar-se aos elaborados pelos humanos modernos. O estudo agora publicado sustenta a tese que explica o desaparecimento dos neandertais através da sua absorção progressiva dentro da população de humanos modernos.

“Os neandertais teriam sido, por cruzamento, absorvidos na nossa herança genética”, destaca o investigador da Universidade de Leiden. Mas, como “a maioria dos habitantes da Terra tem ADN neandertal, pode-se dizer que, de certa forma, este nunca desapareceu realmente”, aponta Igor Djakovic.