Nem tudo o que deixa de funcionar é lixo

A propósito do Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos, a rede Electrão criou uma instalação em Lisboa (na zona de Belém) com electrodomésticos que deixaram de funcionar – mas nem por isso são lixo. Estes aparelhos podem ser descartados de forma a serem reparados, reutilizados ou reciclados.

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A instalação está situada junto ao Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Belém Electrão

O que se deve fazer a um aparelho eléctrico ou electrónico que deixa de funcionar? Deitá-lo no lixo comum nunca é solução, sublinha a rede de recolha portuguesa Electrão, que gere e recolhe aparelhos eléctricos. Com o objectivo de alertar “para a necessidade de encaminhar os equipamentos eléctricos fora de uso para reciclagem”, o Electrão criou uma instalação em Belém, Lisboa, para que se fale neste problema dos resíduos eléctricos, que são cada vez mais. Pedro Nazareth, responsável pela rede de recolha de resíduos electrónicos, explicou ao PÚBLICO que a instalação poderá ser vista na Praça da Guitarra, em Belém, de 14 a 16 de Outubro.

A instalação surge a propósito do Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos, que se assinala a 14 de Outubro. Os avisos relacionados com o lixo electrónico são muitos: menos de um terço dos frigoríficos velhos foi eliminado correctamente em 2020, o que fez com que fossem libertadas 78,6 toneladas dos gases de refrigeração (o que equivale a 226 mil toneladas de dióxido de carbono); só em 2022 estima-se que cerca de 5300 milhões de telemóveis se tornarão lixo; e cerca de 24,5 milhões de toneladas de pequenos dispositivos electrónicos ficarão também sem utilização em 2022 – e muitos deles acabam por ficar acumulados em casa ou sem serem devidamente descartados.

Para tentar resolver este problema, a União Europeia está a preparar um projecto legislativo para consagrar o direito à reparação de equipamentos electrónicos, para evitar que reparar saia mais caro do que comprar novo. Este direito prevê que o proprietário de um produto tenha a capacidade de o reparar ou de o levar a um técnico da sua preferência, garantindo também que os dispositivos são mais duráveis e mais fáceis de reparar.

Como se lê no site do Parlamento Europeu, “77% dos consumidores europeus preferem reparar os seus produtos do que comprar novos, mas acabam por ter de os substituir ou descartar devido ao custo das reparações”.

Há ainda o problema de muitos produtos serem concebidos para deixarem de funcionar após um certo período de tempo ou quantidade de utilização, alerta o Parlamento Europeu. A maior parte dos resíduos electrónicos recolhidos na União Europeia corresponde a grandes electrodomésticos (52,7%), mas há ainda uma elevada percentagem de aparelhos que não são devidamente tratados nem reciclados.

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A instalação vista de cima Electrão

O CEO do Electrão, Pedro Nazareth, deixa o conselho a quem tenha aparelhos eléctricos ou electrónicos em casa que já não usa: “Visitar o site ondereciclar.pt e procurar o ponto de recolha mais próximo de casa” e nunca deitar estes resíduos no lixo comum. Há materiais que poderiam ser reutilizados e reciclados, mas acabam por ser incinerados ou encaminhados para aterros se forem postos no lixo comum.

Há ainda aparelhos que podem ter materiais com alguma perigosidade e deitá-los no lixo leva a que se dispersem poluentes pelo meio natural, explica Pedro Nazareth ao PÚBLICO. A reutilização de materiais dos aparelhos eléctricos e electrónicos faz também com que se reduza a exploração de novos recursos do planeta.