Raro e solitário protesto contra Xi, dias antes do arranque do congresso do Partido Comunista Chinês
Duas faixas foram colocadas num viaduto sobre uma importante estrada de Pequim, comprovam fotos e vídeos divulgados nas redes sociais. Protesto terá sido travado em pouco tempo pelas forças de segurança.
Imagens partilhadas no Twitter esta quinta-feira mostram duas faixas com slogans contra o Presidente, Xi Jinping, penduradas num viaduto numa importante estrada no Noroeste de Pequim. O protesto terminou rapidamente, diz a CNN, mas não deixa de ser extraordinário que tenha sido sequer possível colocar as faixas, com “a segurança e a vigilância pré-congresso”, realça na mesma rede social Bill Birtles, jornalista da ABC.
“Diz não aos testes covid, sim à comida. Não ao confinamento, sim à liberdade. Não às mentiras, sim à dignidade. Não à revolução cultural, sim às reformas. Não ao grande líder, sim ao voto. Não sejam escravos, sejam cidadãos”, lia-se numa das faixas. “Entrem em greve, afastem o ditador e traidor nacional Xi Jinping”, estava escrito na outra. Junto às faixas, vêem-se nuvens de fumo a subir no ar, como se alguém tivesse pegado fogo a qualquer coisa em cima da ponte.
De acordo com a página The Great Translation Movement, foi um só homem que “exibiu as faixas e gritou slogans contra Xi” – há um vídeo onde se ouvem os gritos. “Ele foi detido e a sua voz desapareceu, mas talvez no futuro todos os que atravessem esta ponte se lembrem de que houve uma vez um homem…”, escreve ainda no Twitter este grupo, criado depois da invasão da Ucrânia pela Rússia para documentar e traduzir as reacções chinesas à guerra.
No tweet identifica-se o local do protesto como a ponte de Sitong, bairro de Haidian, em Pequim. Fazendo notar que não pode verificar de forma independente as imagens, a CNN diz ter conseguido geolocalizá-las, confirmando que se trata da ponte Sitong. Os jornalistas do canal norte-americano ainda se deslocaram ao local, mas já não encontraram faixas nem manifestantes – só um grande número de forças de segurança no viaduto e em seu redor.
Este protesto ocorre quando faltam apenas três dias para o arranque do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês, em que Xi será reconduzido para um terceiro mandato como secretário-geral, abrindo portas à sua recondução na presidência, em Março do próximo ano. Em 2018, o PCC fez uma revisão constitucional para revogar o limite de dois mandatos de cinco anos, dando assim a Xi a possibilidade de se manter ininterruptamente como Presidente da República Popular da China.
Os protestos públicos na China são extremamente raros – os poucos com alguma dimensão dos últimos anos foram desencadeados por acidentes que deixaram a nu o estado das infra-estruturas do país e falibilidade do regime. Mais recentemente foi a política “covid zero” a provocar vários focos de protesto em diversas regiões – os confinamentos totais ou parciais, destinados a conter surtos antes do congresso, provaram haver escassez de alimentos.
Como nota Bill Birtles, jornalista que viveu na China até 2020, quando saiu com receio de ser detido, por mais pequeno que tenha sido este protesto, não deixa de ter relevância acrescida por acontecer em cima do congresso do PCC, o principal acontecimento político do país, que se realiza de cinco em cinco anos.