Meloni inicia legislatura italiana “optimista”, mas ainda sem ministro da Economia

No dia 20, Mattarella começará a chamar os partidos com representação parlamentar e no dia seguinte espera-se que indigite Meloni. Até lá, os partidos que vão formar o governo terão de se entender.

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Giorgia Meloni num encontro com os deputados dos Irmãos de Itália Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

Durante a campanha eleitoral que conduziu à sua vitória, Giorgia Meloni repetiu muitas vezes que queria “governar” e que estava “preparada” – isto numa altura em que os seus próprios aliados de coligação hesitavam em confirmar que seria ela a candidata à chefia do Governo se, como se antecipava, o seu partido fosse o mais votado. Os Irmãos de Itália (FdI) tiveram uns rotundos 26% e Meloni ganhou o direito à presidência do Conselho. Mas quando as duas câmaras do Parlamento se reunirem pela primeira vez em Roma, esta quinta-feira, gostaria certamente de estar mais perto de ter o seu governo formado.

“Estou optimista”, disse Meloni esta quarta-feira, antes de mais um encontro com os dois aliados, Liga Norte, de Matteo Salvini, e Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi. “Parece-me que as coisas vão bem, trabalhamos, trabalhamos. Estaremos prontos”, afirmou aos jornalistas. Nessa reunião, ao início da noite, estava previsto que ficasse fechado o acordo sobre a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados. Mas apesar de um aparente consenso em redor dos nomes de Ignazio La Russa (FdI), para o Senado, e de Riccardo Molinari (Liga), para a câmara baixa, nem isso era ainda certo.

Antes destes nomes, era esperado que a presidência do Senado, o segundo cargo institucional mais importante, depois do Presidente da República, fosse para um membro da FI – Berlusconi, aliás, regressa ao Senado nove anos depois de dali ter sido expulso, quando estava prestes a ser condenado por fuga aos impostos e inabilitado. Se Molinari for confirmado para o lugar, isso significa que o partido de Berlusconi deverá ser beneficiado na distribuição de pastas ministeriais, uma consequência que não desagrada a Meloni.

Salvini continua empenhado em ser ministro do Interior, Meloni continua empenhada em negar-lhe esse desejo. A nova chefe do governo considera que seria um mau sinal para a Europa – quando teve essa pasta, em 2018, Salvini não saiu das notícias por causa dos desembarques de requerentes de asilo que recusou.

Neste jogo das cadeiras, a FI quer a pasta dos Negócios Estrangeiros e para o Ministério da Economia e das Finanças já se fala de Giancarlo Giorgetti, secretário adjunto da Liga desde 2016 e actual ministro do Desenvolvimento Económico, lugar que assumiu com a formação do governo de unidade nacional de Mario Draghi, o executivo derrubado no Parlamento em Julho, quando foram marcadas eleições antecipadas. Estas são as duas pastas fundamentais, onde Meloni não quer nem pode falhar.

Giorgetti não é a escolha de Meloni, que queria um ministro com um perfil técnico inatacável. Segundo a Bloomberg, Fabio Panetta, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu, recusou o cargo. O jornal italiano La Reppublica escreve que as suas preferências se concentram agora em dois nomes. Domenico Siniscalco, economista que já foi director geral do Tesouro e ministro das Finanças de Berlusconi, entre 2001 e 2004, como independente, e Vittorio Grilli, economista e académico que foi ministro da Economia e das Finanças de 2012 a 2013, quando Mario Monti dirigia um governo técnico, de iniciativa presidencial.

Claro que é possível que nem Siniscalco nem Grilli aceitem, como outros já recusaram. Para além dos Negócios Estrangeiros, esta será a pasta em que o Presidente, Sergio Mattarella, terá uma palavra a dizer. Mattarella quererá garantias e estará disposto a lutar por elas, mesmo que para isso tenha de vetar nomes, como disse ao PÚBLICO depois das eleições Edoardo Bressanelli, professor de Ciência Política, recordando que o Presidente rejeitou a escolha do economista eurocéptico Paolo Savona no governo formado pelo Movimento 5 Estrelas e pela Liga, em 2018.

Escolhas políticas

Afirmando-se muito optimista em relação ao consenso para definir os presidentes das duas câmaras do Parlamento, o primeiro teste oficial à união da heterógenea coligação, Giovanbattista Fazzolari, membros dos FdI e próximo de Meloni desde 1995, nos tempos da Aliança Nacional, garante que “também na formação do governo está tudo bem”. Mas tendo em conta a dimensão dos desafios – e as expectativas – Meloni quereria certamente estar mais adiantada. “Creio que 90% dos ministros serão políticos”, afirmou à Rádio 1 da Rai o senador Maurizio Gasparroi (FI).

Considerando a sua votação, e a queda da Liga e da FI (o primeiro não chegou aos 9%, o partido de Berlusconi teve 8%), esperava-se precisamente que a maioria dos nomes do próximo governo fossem escolhas políticas de Meloni, muitas saídas do seu partido. Mas segundo a imprensa, o acordado foi que cada um dos partidos aliados pudesse encabeçar cinco ministérios.

Não há ainda nenhuma tragédia. Depois de reunidas as duas câmaras do Parlamento, será tempo para eleger os respectivos presidentes. No dia 20, Mattarella começará a chamar os partidos com representação parlamentar e no dia seguinte espera-se que indigite Meloni. Aí sim, a futura primeira-ministra de Itália terá de estar pronta.

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