Coreia do Norte testa mais dois mísseis e diz ter as suas forças nucleares “totalmente preparadas para uma guerra”
Pyongyang estará a testar a sua capacidade táctica nuclear em mísseis de cruzeiros, mais difíceis de detectar por voarem mais baixo, e garante que estas armas já estão disponíveis para algumas unidades militares.
A Coreia do Norte testou dois mísseis de cruzeiro estratégicos de longe alcance, um lançamento supervisionado por Kim Jong-un. Segundo informa esta quinta-feira a agência de notícias estatal KCNA, estes mísseis estão equipados para transportar armas nucleares tácticas e já foram enviados para algumas unidades do Exército. Este é pelo menos o oitavo teste com mísseis realizado por Pyongyang nas últimas semanas – analistas, mas também Seul, Tóquio e Washington acreditam que em breve fará um teste nuclear, o primeiro desde 2017.
De acordo com a KCNA, Kim expressou “grande satisfação” com o teste, que melhorou a eficiência de combate dos mísseis cruzeiro. Actualmente, afirmou o Presidente, as forças de combate nucleares do país estão “totalmente preparadas para uma guerra nuclear real”.
No início da semana, a KCNA explicou que os lançamentos mais recentes foram “exercícios nucleares tácticos” para “verificar e avaliar a capacidade de dissuasão e de contra-ataque nuclear do país”. Os exercícios terão simulado operações para tomar aeroportos e infra-estruturas militares na Coreia do Sul.
O míssil norte-coreano lançado sobre o Japão no início do mês – o primeiro a sobrevoar o país em cinco anos – também foi realizado neste contexto, mas visou principalmente responder aos exercícios navais conjuntos realizados pelo Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul, que envolveram o porta-aviões USS Ronald Reagan, alimentado por energia nuclear.
Tal como o disparo sobre o Japão, exercícios deste tipo também não aconteciam desde 2017. Nesse ano, após os exercícios, a Coreia do Norte disparou dois mísseis sobre o Japão – uma semana depois, seguiu-se um teste nuclear.
“O último teste significa que o Norte está a operar capacidade táctica nuclear em mísseis de cruzeiro, mais difíceis de detectar por voarem a baixa altitude”, disse à AFP Hon Min, analista do Instituto Coreano para a Reunificação Nuclear. “É uma prova das capacidades de Pyongyang para lançar ogivas nucleares”, explicou.
A Coreia do Norte reviu as suas leis nucleares o mês passado para permitir ataques preventivos, lembra a Al-Jazeera. Isto logo depois de Kim ter declarado que o país possui um poder nuclear “irreversível”, terminando assim a possibilidade de negociações sobre o seu arsenal.
“Os mísseis, a força aérea e a capacidade nuclear táctica da Coreia do Norte são provavelmente muito menos capazes do que a sua propaganda sugere”, disse à Al-Jazeera Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha University, em Seul. “Mas seria um erro desvalorizar os últimos testes como fanfarronice”, avisou. “A ameaça militar de Pyongyang é um problema crónico e crescente para a paz e a estabilidade na Ásia e não deve ser ignorado”, defende, mesmo com os EUA empenhados em responder aos desafios da guerra russa na Ucrânia.