Um casal russo criou o seu próprio refúgio da guerra: uma livraria em Istambul
Quando fugiram, tiveram de deixar a maior parte dos livros que tinham para trás. “É por isso que me sinto tão bem por estarmos a criar uma livraria, porque os livros e as prateleiras que tínhamos na Rússia significam muito para mim”, diz Aleksandra.
A conversa muda de turco para russo quando Oleg e Aleksandra Chernousov falam com os convidados do almoço que fizeram na livraria que abriram em Istambul. Foi o início de uma nova vida, numa cidade que, inicialmente, pensavam que seria apenas uma casa temporária.
Sete meses antes, voaram de São Petersburgo com uma mão cheia de pertences e uma ideia clara — afastarem-se, com a filha de 11 anos, da invasão da Ucrânia. À medida que o conflito escalava e as poupanças começavam a escassear, eles e outros emigrantes começaram a olhar para a Turquia e a fazer planos a longo prazo.
Para a família Chernousov, esses planos concretizaram-se na forma de uma livraria em Moda, um bairro em Istambul, com a abertura da Black Mustache — uma tradução literal do seu apelido.
“A loja é pequenina, mas esperamos que tenha uma longa vida”, disse à Reuters Oleg, de 33 anos, enquanto principalmente russos recém-chegados entravam na loja. Muitos dizem que saíram da Rússia com medo de serem presos por se oporem à invasão à qual Putin chama “operação militar especial”.
Também recearam ser forçados a lutar — um medo que se tem tornado mais real desde que o Presidente ordenou a mobilização parcial.
A nova casa escolhida foi a Turquia, membro da NATO que tem procurado equilibrar os laços com a Rússia e com a Ucrânia durante o conflito.
A Black Mustache vende livros de fotografia, moda e design, incluindo alguns em russo, ainda que os preços de entrega sejam altos.
Oleg tem usado a experiência que adquiriu a gerir uma loja semelhante em São Petersburgo, onde os livros sempre foram uma parte da vida do casal. “Quando o Oleg e eu começámos a namorar — na Rússia chamamos-lhe o período dos doces e flores — ofereceu-me alguns livros”, referiu Aleksandra. Quando fugiram, tiveram de deixar a maior parte para trás.
“É por isso que me sinto tão bem por estarmos a criar uma livraria, porque os livros e as prateleiras que tínhamos na Rússia significam muito para mim”, acrescentou. “Eram uma fonte de inspiração e, sem eles, sentia-me sozinha. Agora sinto-me melhor.”