Cientistas portugueses querem saber se a criopreservação afecta os espermatozóides humanos
Espermatozóides criopreservados de homens fertéis e infertéis vão ser analisados para perceber se técnica de armazenamento provoca danos na viabilidade destas células.
Uma equipa da Universidade do Porto vai investigar se a criopreservação de espermatozóides humanos afecta a estabilidade do genoma.
Deste projecto de cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da mesma universidade, deverão resultar “informações inéditas e clinicamente relevantes sobre a segurança da criopreservação”, refere a FMUP em comunicado.
Financiado em 50 mil euros pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o estudo recai nos efeitos da criopreservação no ADN humano, tendo como foco as regiões “onde estão genes cuja expressão é dependente da origem parental e que são essenciais para o desenvolvimento embrionário e placentário”.
A criopreservação de espermatozóides é uma técnica utilizada na reprodução medicamente assistida, permitindo o seu armazenamento a longo prazo. Na prática clínica, a criopreservação é usada, por exemplo, para preservar os espermatozóides de homens com cancro, evitando que sejam afectados pelos efeitos adversos de tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia.
“A criopreservação é geralmente considerada uma técnica segura, mas poderá provocar danos na viabilidade dos espermatozóides, diminuindo a possibilidade de fertilização”, aleta a investigadora responsável pelo projecto, Joana Marques, citada no comunicado. “E também no próprio ADN, isto é, no material genético que será transmitido à geração futura”, acrescenta.
A especialista em genética analisou grupos onde ocorreram erros de metilação em espermatozóides de pacientes inférteis. “Pretendemos agora averiguar se a técnica de criopreservação poderá levar também ao aparecimento destes erros”, indica a especialista.
No âmbito deste projecto, os investigadores irão recolher amostras de espermatozóides de homens que sofrem de infertilidade e espermatozóides de homens férteis. As amostras serão criopreservadas durante um mês, seis meses ou 12 meses.
Depois de descongelados, os espermatozóides serão sujeitos a análise, nomeadamente no que respeita a modificações epigenéticas no ADN. Espera-se que, no final, seja possível saber se a criopreservação tem ou não impacto na epigenética dos espermatozóides.
“Espera-se que os resultados possam informar os laboratórios que recorrem a esta técnica um pouco por todo o mundo”, lê-se no resumo sobre o projecto que arranca em Janeiro do próximo ano e terá a duração de 18 meses.
O projecto envolve vários investigadores da FMUP, nomeadamente Alberto Barros, Carla Caniçais, Carolina Almeida, Filipa Carvalho, Sara Vasconcelos, Sofia Dória e Sofia Coelho, aos quais se juntam ainda Elsa Oliveira e Mário Sousa (do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto) e Miguel Branco (do Instituto Blizard, da Universidade Queen Mary de Londres, no Reino Unido).