Greves nas refinarias deixam franceses à míngua de combustíveis

Governo decretou a requisição civil para repor abastecimento nos postos da Esso. Na Total, ainda não há solução à vista. Sindicatos reivindicam aumentos salariais e querem manter a greve que dura há duas semanas.

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Piquetes de greve manifestam-se na refinaria de La Mede, da TotalEnergies GUILLAUME HORCAJUELO/EPA

Numa estação de serviço nos arredores de Paris, os automobilistas em fila para abastecer os seus carros revoltam-se contra um homem que se demora a atestar jerricãs. “Nós aqui à espera e ele a encher todos esses bidons!”, diz alguém, enquanto o visado se justifica: “O meu carro empanou ali ao fundo.”

Divulgado pela televisão BFM, o pequeno vídeo amador foi gravado na segunda-feira à noite, quando milhares de condutores entupiam bombas de combustível um pouco por toda a França. Desde a semana passada que os postos de abastecimento do país estão a enfrentar uma escassez de gasóleo, gasolina e GPL.

Segundo os dados mais recentes do Ministério da Transição Energética, pelo menos um destes combustíveis tinha esgotado em 31% dos postos na terça-feira. A situação mais complicada verificava-se na área metropolitana de Paris (île-de-France) e nos Hauts-de-France (Norte), onde mais de 40% das bombas estavam com falta de combustível.

Na origem da penúria estão as greves dos trabalhadores das refinarias da TotalEnergies e da ExxonMobil, que interromperam as cadeias de abastecimento dos postos.

A greve na TotalEnergies foi convocada pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) para exigir aumentos salariais de 10%. Três das suas cinco refinarias em território francês, incluindo a maior do país, estão paralisadas. A empresa petrolífera começou a dar descontos de 20 cêntimos por litro (a que se somam os 30 cêntimos dados pelo Estado), o que levou a um aumento da procura por combustível a rondar os 30%.

“O que reclamam os trabalhadores das refinarias, como tantos outros assalariados neste país, é uma repartição mais justa dos lucros provenientes do trabalho, do seu trabalho!”, disse a CGT num comunicado esta terça-feira, no qual acusou o presidente executivo da Total de “ganhar 5,8 milhões de euros por ano” e de ter “dado a si mesmo um aumento de 52% este ano”.

Na ExxonMobil (que explora os postos Esso) as reivindicações são semelhantes: aumento dos salários em 7,5% e um prémio para os trabalhadores como distribuição dos lucros da empresa. As duas refinarias do grupo em França não estão a funcionar.

Pressionada a tomar medidas, a primeira-ministra anunciou uma requisição civil dos trabalhadores da ExxonMobil para reabrir os depósitos de combustível. Élisabeth Borne justificou a decisão com o acordo salarial alcançado na segunda-feira entre a empresa e duas organizações sindicais (a CFE e a CFDT), que são as mais representativas no contexto do grupo.

“Os anúncios da direcção são significativos. Portanto, pedi aos prefeitos [governadores civis] para iniciarem, como permite a lei, os procedimentos para a requisição do pessoal indispensável ao funcionamento dos depósitos desta empresa”, disse a governante na Assembleia Nacional.

A greve foi convocada, no entanto, pela intersindical Força Operária/CGT, que é a mais representativa entre os trabalhadores das refinarias. “Uma parte das organizações [sindicais], apesar do acordo, quer continuar os bloqueios. Não o podemos aceitar”, acrescentou Borne.

Na TotalEnergies, a administração demonstrou abertura para iniciar um processo negocial com os sindicatos na condição de que os bloqueios às refinarias sejam levantados e se retome o abastecimento normal das estações de serviço. O coordenador da CGT na empresa disse estar “à espera de detalhes” para saber se toma lugar à mesa de negociações.

A escassez de combustíveis coloca pressão acrescida sobre o executivo francês, que governa com maioria relativa. Três centrais sindicais, entre as quais a CGT, organizaram no fim de Setembro uma jornada de manifestações que foi encarada como uma medição de temperatura do ambiente social no país. Para o próximo domingo está marcada uma marcha contra a carestia de vida organizada pelos partidos da coligação de esquerda NUPES.

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