FMI prevê menos crescimento e mais inflação do que o Governo
Sem conhecer ainda a proposta de OE apresentada pelo Governo, o Fundo traça um cenário de abrandamento mais acentuado na economia portuguesa em 2023, com a inflação a ficar nos 4,7%. Para a economia mundial, avisa, “o pior ainda está para vir”.
Apenas um dia após apresentar a sua proposta de Orçamento do Estado para 2023, o Governo já está a ter o cenário macroeconómico em que baseia esse documento a ser posto em causa por uma conhecida instituição internacional.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou esta terça-feira as suas novas previsões para a economia mundial, onde inclui também os números que está a antecipar para os principais indicadores económicos em Portugal. O fundo, que em Maio previa que a economia portuguesa ia ter um crescimento de 4,5% em 2022 e de 2% em 2023, passou, sem surpresa, a estar mais optimista para este ano e mais pessimista para o próximo.
Sem levar ainda em conta a proposta orçamental do Governo, a entidade com sede em Washington antecipa agora um crescimento de 6,2% este ano e de 0,7% em 2023. Estes dois valores ficam abaixo do cenário macroeconómico traçado pelo Governo na proposta de OE apresentada esta segunda-feira, onde o executivo conta com um crescimento de 6,5% este ano e de 1,3% no próximo.
Para o próximo ano, no qual o executivo espera reduzir o défice público de 1,9% para 0,9%, esta diferença de crescimento entre os 1,3% projectados no OE e os 0,7% previstos pelo FMI pode significar mais dificuldades no cumprimento das metas orçamentais, já que implicaria um resultado menos positivo ao nível das receitas fiscais e um esforço maior do Estado no que diz respeito aos apoios sociais a conceder às famílias.
Também, relativamente à inflação, o FMI está mais pessimista. Reviu fortemente em alta, tal como acontece com todos os países, as suas previsões de inflação para Portugal, colocando este indicador nos 7,9% em 2022 e nos 4,7% em 2023.
São valores que ficam acima das estimativas do Governo, que aponta no OE para uma taxa de inflação de 7,4% em 2022 e de 4% em 2023. Se a inflação se revelar maior no próximo ano, o impacto de curto prazo nas receitas fiscais, por exemplo ao nível do IVA, até pode ser maior, mas as necessidades de apoio às famílias e empresas num cenário de persistente escalada dos preços agravam-se.
No que diz respeito à taxa de desemprego, a previsão do FMI para Portugal também é mais pessimista. Enquanto o Governo projecta a manutenção deste indicador em 5,6%, tanto em 2022 como em 2023, o FMI prevê que este suba de 6,1% em 2022 para 6,5% em 2023, como resultado do forte abrandamento que está a antecipar para a economia.
De notar que, nas previsões agora apresentadas, o FMI não contou com as medidas incluídas pelo Governo na proposta de OE que foi apresentada esta segunda-feira, pelo que parte da diferença nas previsões pode estar relacionada com o efeito que a política orçamental pode ter na evolução da economia.
As previsões do FMI para Portugal, ainda assim, revelam resultados para o crescimento e para inflação que são mais favoráveis do que os previstos para a totalidade da zona euro. O fundo prevê que a economia da zona euro cresça apenas 3,1% em 2022 e 0,5% em 2023 (uma revisão em baixa face aos 1,2% que tinha projectado em Julho), o que significa que, caso as novas projecções se concretizassem, Portugal garantiria nestes anos alguma convergência com a média europeia.
O FMI prevê que a maior economia europeia, a Alemanha, registe em 2023 uma taxa de crescimento anual negativa, de -0,3%.
No que diz respeito à inflação, o FMI prevê que esta chegue aos 8,3% na zona euro este ano e que se mantenha ainda nos 5,7% em 2023, o que força o Banco Central a agir de forma agressiva, subindo as taxas de juro e condicionando o ritmo de actividade económica.
Nas previsões de Outono agora publicadas, o Fundo não esconde a sua apreensão relativamente ao que pode vir a acontecer na economia mundial. As novas previsões do FMI para o PIB global são de um crescimento de 3,2% este ano e de 2,7% no próximo, quando em Julho a projecção para 2023 era de um crescimento de 2,9%.
E, para além desta ligeira revisão em baixa, os técnicos do Fundo, não só assinalam que existe “uma probabilidade de 25%” da taxa de crescimento cair abaixo de 2%, como destacam o facto de “mais de um terço da economia mundial se contrair durante este ano ou no próximo, com as três maiores economias - EUA, UE e China - a continuarem paradas”. “Em resumo, o pior ainda está para vir e para muitas pessoas o ano de 2023 vai saber a uma recessão”, diz o FMI.