João Donato em Portugal: “A finalidade da minha música é tornar o outro feliz”
Nome histórico da música brasileira, João Donato actua este domingo no Porto, na Casa da Música, e segunda-feira em Lisboa, no Tivoli BBVA. Com um trio de luxo e duas vozes convidadas: António Zambujo no Porto e Carminho em Lisboa.
Acaba de lançar um disco, de gravar outro e já o desafiaram para um terceiro. Aos 88 anos, João Donato exibe uma espantosa jovialidade que se expressa também na sua música. Três anos depois de se apresentar fugazmente em Portugal, em Novembro de 2019 (no B.Leza), está de volta para dois concertos em salas maiores: primeiro no Porto, na Casa da Música, este domingo às 21h, e depois o Tivoli BBVA em Lisboa, na segunda-feira à mesma hora. Apresentando-se em quarteto, ele e o seu trio, com João Donato (piano e voz) estarão Ricardo Pontes (saxofone e flauta), Renato Massa (bateria) e Guto Wirtti (contrabaixo). E a voz de dois convidados: no Porto, António Zambujo; em Lisboa, Carminho. Para cantar, Zambujo escolheu A Paz e uma música de Chico Buarque, de entre as que gravou no seu disco Até Pensei Que Fosse Minha (2016). Carminho ainda iria escolher, com Donato.
Depois destes concertos portugueses, para já os únicos na Europa, João Donato irá começar uma digressão pelo Brasil com este seu trio em Dezembro, com algumas datas confirmadas (São Paulo, Natal ou Belo Horizonte) e outras ainda em fase de negociação.
Nome histórico da música brasileira, pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor, João Donato nasceu em Rio Branco, no estado brasileiro do Acre, em 17 de Agosto de 1934, começando cedo (por volta dos 6 a 7 anos) a tocar acordeão. Acompanhou os alvores da bossa nova, mas não se deixou prender a um estilo. Tocou com João Gilberto, Gilberto Gil, Cal Tjader, Tito Puente, Mongo Santamaría, Bud Shank, Nelson Riddle ou Chet Baker, entre muitos outros, e soma uma vasta discografia que não pára de crescer. O primeiro foi Chá Dançante (1956), antes de gravar dois álbuns que ficaram como referência para a história: Muito à Vontade (1962) e A Bossa Muito Moderna de João Donato (1963).
Nos últimos quinze anos, gravou dez discos. Primeiro Sambolero, com Trio (2008), que lhe valeu um Grammy Latino em 2010. A par desse, gravou Os Bossa Nova, com Marcos Valle, Carlos Lyra e Roberto Menescal (2008), seguindo-se Água, com Paula Morelenbaum (2010); Aquarius, com Joyce Moreno (2012); Bluchanga (2015); Donato Elétrico (2016), disco que apresentou ao vivo em 2019 em Lisboa; Sintetizamor, com o seu filho Donatinho (2017), Síntese do Lance, com Jards Macalé (2021) e agora Serotonina (2022).
O título deste último disco, que será parcialmente apresentado em Portugal, a par de vários clássicos intemporais da sua obra, nasceu de forma curiosa, como diz Donato ao PÚBLICO: “Tenho uns amigos na Colômbia que me disseram que a minha música tinha serotonina. Eu fiquei: o que é isso? E fui pesquisar. Então é um hormónio que produz a felicidade da gente, produzido por nós mesmos. Aí, virou título.” É também o último tema do disco homónimo, um instrumental com que Donato fecha o primeiro álbum só de inéditos em duas décadas.
Serotonina nasceu a partir de rascunhos, manuscritos e gravações em cassete que Donato tinha em casa e que revisitou durante a pandemia. “Eram papéis de música, que fui rever e vi que davam novas composições”, diz Donato. Com um lote já reunido, o produtor do disco, Ronaldo Evangelista, começou a pedir colaborações a músicos e cantores, e foi assim que se associaram a João Donato em Serotonina as cantoras Anastácia (em Simbora) ou Céu (em Floriu), assinando as respectivas letras e cantando também com ele, ou os compositores Rodrigo Amarante (Estrela do mar), Maurício Pereira (Azul royal), Jorge Andrade (Eu gosto de você) e o próprio Ronaldo Evangelista, que assina as letras de Órbita, Bonsbons e Prata.
Gravado durante a pandemia, entre finais de 2020 e o início de 2022, Serotonina já tem sucessor, porque João Donato gravou entretanto mais um disco que há-de sair brevemente. E poderá gravar outro. “Eu faço isto porque gosto”, diz Donato. “Agora mesmo já me estão convidando a reunir material para gravar mais um outro disco.” Seja como for, Serotonina deu o tom para o que virá. “Quero dar continuidade a esse caminho”, explica João Donato, “onde a música influencia o estado de espírito da pessoa que está ouvindo. A música pode provocar esse efeito nas pessoas. Porque essa é a finalidade da música: tornar o outro feliz. Ter música para ganhar dinheiro, arranjar namoradas ou ficar famoso e sair nas revistas? A finalidade da minha música é tornar o outro feliz. A música tem essa missão. Se você ouve uma música de que gosta, você se sente bem com aquilo. E é isso queremos alcançar.”