Estar com cães pode mesmo ser bom para o nosso cérebro

Um novo estudo mostra que estar com cães - e principalmente dar-lhes festinhas - aumenta os níveis de actividade de uma região do cérebro ligada à regulação das emoções e à atenção.

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Os cães podem ter mais funções de assistência em saúde, apontam investigadores Paulo Pimenta

Não é um aspecto totalmente novo no estudo da nossa interacção com outros animais, especialmente com cães: estar com eles e tocar-lhes ajuda a lidar com o stress ou ansiedade, por exemplo. Isto também se reflecte no cérebro. Quando estamos com cães, a actividade do córtex pré-frontal do cérebro atinge níveis muito mais elevados – o que pode tornar estes animais, além de “melhor amigo”, num terapeuta assistente.

Esta é a sugestão de um estudo da Universidade de Basileia (Suíça), que é agora publicado na revista científica PLOS One. Já sabíamos que o aumento dos níveis de actividade do córtex pré-frontal está associado com a regulação e o processamento de interacções emocionais e sociais. Portanto, a equipa liderada pela investigadora Rahel Marti aponta que é possível que os cães ajudem a regular as nossas emoções, já que provocam níveis mais altos de actividade no córtex pré-frontal.

Mais do que a mera regulação do quotidiano, a investigação reflecte nas possibilidades que este aspecto pode acrescentar para o desenvolvimento de terapias clínicas assistidas por animais. Os baixos níveis de actividade no córtex pré-frontal estão ligados a fadiga, défice de atenção ou sintomas depressivos, por exemplo.

Os cães de assistência já têm um papel importante no apoio a pessoas cegas ou com dificuldades auditivas, bem como em pessoas com doenças neurológicas, por exemplo.

Ao olhar para as imagens em infravermelho de 19 voluntários, os investigadores notaram um grande aumento de actividade naquela região do cérebro, quando as pessoas viam um cão, faziam festinhas ou quando estavam com o cão encostado às suas pernas. Para comparar estes aumentos, a equipa da Universidade de Basileia testou as mesmas situações com um leão de peluche (o Leo), com pêlo e uma botija de água quente que mantinha o peso e a temperatura do peluche similar à de um cão.

“Este estudo demonstra que a actividade cerebral pré-frontal em indivíduos saudáveis cresce com o aumento da proximidade interaccional com um cão ou animal de peluche, mas especialmente com um cão”, escrevem os autores no artigo científico. Os 19 voluntários participaram em várias sessões com as mesmas tarefas ao longo de seis meses.

“Isto indica que as interacções com um cão podem activar mais processos de atenção e provocar uma excitação emocional mais forte do que estímulos não vivos”, concluem, fazendo a ponte para a hipótese de maior utilização terapêutica destes animais. Os resultados obtidos mostram uma maior actividade cerebral quando os voluntários fizeram festinhas aos cães, sendo que estes níveis aumentaram com as sucessivas interacções, mostrando uma resposta ajustada à familiaridade com o cão.

É mais uma proposta que junta o conhecido “melhor amigo do Homem” com a saúde, mas além de envolver apenas 19 pessoas, este trabalho ainda precisa de ser replicado. No artigo científico, os investigadores notam ainda que é necessário estudar se outros animais podem ter os mesmos efeitos e se esta familiaridade se prolonga ao longo de um período de um estudo mais longo.

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