Em Portugal, as observações de tubarões-frade são esporádicas, sobretudo no Algarve. Não são uma espécie-alvo para estudo, como acontece nas ilhas britânicas, onde há grandes aglomerações. Por isso, as atenções da equipa de Nuno Queiroz, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto têm-se concentrado nos últimos tempos no estudo do tubarão-azul e do tubarão-anequim, para tentar perceber o que acontece com estas espécies na zona de oxigénio mínimo que existe ao Sul de Cabo Verde.
Estas zonas estão associadas aos fenómenos de afloramento costeiro de água fria que vem do fundo do mar, e que trazem muitos nutrientes para a superfície, há uma grande abundância de plâncton, diz Nuno Queiroz. “Quando toda essa matéria orgânica se afunda no oceano, em determinadas zonas é consumida por bactérias. Só que são tantas que esgotam quase todo o oxigénio da água. Entre os 100, 200 metros e até 800, 1000, cria-se uma zona de oxigénio mínimo. Há muito oxigénio à superfície, diminui nestas zonas e depois volta a aumentar no fundo”, explica.
Estas zonas de oxigénio mínimo estão a expandir-se com as alterações climáticas: “À medida que a água vai aquecendo, vai tendo menos oxigénio, e depois também aumenta a estratificação, a zona superficial do oceano fica muito mais quente em relação à zona inferior”, adianta o cientista.
O que acontece com os tubarões-azuis e os tubarões-anequim na zona de oxigénio mínimo a Sul de Cabo Verde é que ficam comprimidos à superfície, percebem os cientistas, que marcam os animais com transmissores para os seguirem via satélite. Os tubarões-azuis conseguem fazer alguns mergulhos nestas zonas. “Mas os anequins, embora consigam fazer mergulhos praticamente até dois quilómetros de profundidade, nem sequer mergulham”, conta Nuno Queiroz. “Ao contrário dos tubarões-azuis, os anequins conseguem manter o sangue mais quente que a água – nove graus, sempre – e para isso precisam de muito mais oxigénio”, explica.
“Isto tem implicações muito maiores, porque os barcos de pesca andam em cima desta zona. Claro que conseguem apanhar tubarões muito mais facilmente, porque eles estão perto da superfície”, relata Nuno Queiroz. O trabalho já resultou na publicação de um artigo científico, que salientou a vulnerabilidade do tubarão-azul às pescas por causa deste fenómeno. Os estudos da sua equipa podem vir a servir de base para a conservação das espécies. “Se calhar, no futuro, estas zonas podem ser consideradas prioritárias, por causa deste impacto das pescas e das alterações climáticas”, adianta.
A equipa desenvolveu um novo instrumento, um transmissor que também mede o oxigénio na água, que permitirá compreender melhor a compressão a que os tubarões estão sujeitos nas camadas superiores do oceano. “Queremos tentar perceber se os anequins não conseguem entrar nas zonas de oxigénio mínimo ou se simplesmente não o fazem porque as suas presas estão todas à superfície”, exemplifica.
Vão tentar estudar outra espécie: o tubarão-baleia, o maior peixe dos oceanos. “Em princípio, eles conseguem fazer mergulhos muito fundos nas zonas de oxigénio mínimo, à procura do plâncton que há em profundidade”, diz Nuno Queiroz. “A nossa ideia é marcar tubarões-baleia em Cabo Verde, mas também no México: no Pacífico, a zona de oxigénio mínimo é muito mais forte”, adianta.