Nuno Afonso ataca proposta orçamental do Chega: do “devaneio” à “deriva ideológica”
Ex-braço direito de André Ventura critica proposta de prolongar apoio de 125 euros durante todos os meses de 2023.
“Devaneio”, “falta de noção assustadora”, “deriva ideológica”, “falta de consistência política” - a lista de críticas é grande num texto tão pequeno. As palavras duras são do ex-chefe de gabinete de André Ventura e ex-vice-presidente do Chega, Nuno Afonso, sobre a proposta do partido de replicar mensalmente o apoio de 125 euros por pessoa durante todos os meses de 2023.
“O homem diz que é contra o RSI [rendimento social de inserção], a subsidiodependência, o Estado assistencialista e agora tem este devaneio...”, escreveu Nuno Afonso numa publicação na rede social Facebook, o instrumento que tem usado para fazer oposição interna à liderança do partido desde que foi afastado, primeiro, da direcção, e, depois, do gabinete de Ventura no Parlamento. Desde a fundação do partido, em 2019, uma das principais bandeiras do Chega tem sido a crítica aos apoios e subsídios estatais por promoverem a subsidiodependência e levaram os desempregados a recusarem ofertas dos centros de emprego.
“Quando falo de deriva ideológica, ou que não sabe fazer política de forma séria, ou falta de consistência política, este é só mais um exemplo”, afirma, referindo-se ao anúncio de Ventura de que a bancada vai propor como alterações ao OE2023 o prolongamento do apoio de 125 euros (pago no dia 20 de Outubro a quem tem rendimento singular inferior a 2700 euros brutos mensais) durante “todos os meses” de 2023, isento de impostos.
“Esta procura insana de tentar agradar a PSD, PS, BE, PAN... demonstra que isto já nem é populismo, é uma falta de noção que se torna assustadora quando vem do terceiro partido com maior representação parlamentar. O tal que pedia para o internarem quando tentasse acordos e ligações aos partidos do sistema”, ironiza Nuno Afonso. “Os crentes que me venham criticar, ofender ou ameaçar, não é isso que me faz deixar de ter razão e muito menos de defender os princípios e valores que me foram transmitidos”, remata o também vereador do Chega na Câmara de Sintra.
Nuno Afonso foi um dos alvos das críticas de praticamente todas as intervenções de deputados e dirigentes do Chega na assembleia que Ventura convocou para a Batalha, há três semanas. Sem o nomearem, houve, por exemplo, epítetos de “ratos” e “cobardes” e conselhos de ‘rua daqui para fora’ aos críticos da direcção que não apareceram na reunião magna. O presidente do partido prometeu mesmo que no dia seguinte iria tratar de processos disciplinares.